sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Peep classic Ésquilo por Gustavo Susin


 
Quem sabe fazer tragédia? Quem sabe fazer teatro? Quem sabe assistir teatro?

Peep classic Ésquilo, de Roberto Alvim, é um estudo sobre os textos antigos de Ésquilo. Apresentado em três dias, o projeto encena todas as peças escritas pelo dramaturgo grego, ao longo de três encenações. Fui convidado pelo blog do Poa em Cena a assistir a terceira e última peça da trilogia proposta por Roberto Alvim, a encenação de Oresteia I e II.
Na experimentação, pode-se tudo. O teatro, assim como o aceitamos, desde a invenção da caixa cênica, é constantemente testado, através de seus infinitos recursos, na busca de se redescobrir o fazer teatral. Ora se opta pelo bruto, ora por inúmeras camadas carregadas de significado, tudo em torno de fazer surgir o “acontecimento”.
Mas quem sabe hoje como se montava, ou assistia, uma tragédia grega no século V a.C? Ninguém que é vivo nos pode contar; muito menos existem registros de fotos ou imagens. São relatos, deduções e manuscritos históricos que nos levam a tentar reconstruir artificialmente as condições em que as encenações destes textos eram apresentadas. Eu creio que talvez houvesse máscaras, figuras gigantes, vozes poderosas. Os atores deviam ser selecionados a dedos, com biotipos específicos. O sol devia bater contra os olhos, nascendo atrás do palco, ofuscando a plateia, criando a sensação de uma aura divina em torno do espaço de encenação. O silêncio imperava sobre toda a plateia, de milhares de cidadãos. Do palco, só se enxergava vultos. Tudo conforme os deuses queriam. Hum... Será que era assim?
Eu, espectador do século XXI, 29 anos de idade, realmente saí com muitas dúvidas sobre o objetivo das opções cênicas realizadas pelo diretor, que me fizeram, simplesmente, não conseguir apreciar o espetáculo. Não consegui ver o rosto dos atores, não consegui ver figurino, não vi qualquer ação cênica que me remetesse a outro espaço (nem o grego), não consegui ver o cenário. Não vi outra simbologia expressada a não ser pelas palavras e pelo movimentar retilíneo, lento e direto dos personagens. Um espetáculo todo feito na penumbra, com atores (ou melhor: suas silhuetas) se movendo como bispos e peões em um tabuleiro. Ao fundo, uma luz fria ofuscando a plateia. Como aquela mesma áurea divina.
De início, com aquela luz e aquela densidade apresentada, achei que fosse ver um espetáculo extremamente imagético, com o palco se transformando em verdadeiras paisagens. Me excitei. Algo tipo Gertrude Stein. Acho que foi por isso que veio a decepção, depois não aconteceu mais nada. Em certos momentos, me arrisquei a fechar os olhos, pois pensei que talvez não houvesse nada para ser visto. E então me lembrei das dublagens de filmes estrangeiros. Especialmente de desenhos infantis. Vozes caricaturais se espalhavam pelo teatro, fazendo-me prestar atenção muito mais nas variações e técnicas vocais dos atores do que propriamente no texto. Não consegui me emocionar. Não consegui me envolver. Não consegui observar as opções da tradução realizada. Mas eu realmente não entendo nada de Tragédia, então essa opinião não deve ser levada tão em conta.
Mas então, eu me pergunto: como fazer um texto clássico hoje? Não sei. Já vi algumas tragédias, e, incrível, sempre gosto das encenações. Mas nesta, como não enxerguei nada, e não me envolvi com as interpretações, não me empolguei. Acho que este trabalho do imprescindível Roberto Alvim tem uma enorme relevância no campo da pesquisa e investigação, deixando um belo legado para os aficionados pela temática clássica. Mas, no ponto de vista de entretenimento, não foi das experiências mais apaixonantes. Paciência, azar foi o meu.

* Gustavo Susin é ator e jornalista 

2 comentários:

roberto alvim disse...

é... vc viu o que conseguiu ver: nada. esperar algo de um sistema cênico original é necessariamente se frustar: é como ver um jackson pollock procurando ali um velasquez. a decepção será óbvia... em pollock não há desenho, não há perspectiva, não há claro-escuro... é uma outra coisa, um outro sistema formal, como é próprio de toda obra de ARTE. portanto: azar o seu, de fato - deixou de experienciar um pollock por procurar ali o que aquilo se RECUSA a fazer. porque, meu caro, aquilo é arte - e arte é invenção de OUTROS sistemas cênicos, e não repetição dos sistemas reconhecíveis, com maior ou menor habilidade de execução. a experiência estética proposta no PEEP é OUTRA: se não ficasse projetando expectativas na cena, se não se fixasse no que a obra DEVERIA (em sua opinião) fazer, mas no que ela efetivamente FAZ, talvez tivesse tido uma experienciação de outra natureza, que abrisse seus sentidos em caminhos insuspeitados pra ti. well: fica pra próxima. OPEN YOUR MIND.

Anônimo disse...

Senhor Roberto Alvim, eu convido voce a ler o livro PARA O ATOR, de michael chekhov, no qual ele discute as leis da composicao.

Voce, entao, poderá perceber que nesse espetáculo nao tem composicao cenica (do modo que Chekhov a expressa). Tudo o contrário, desde o primeiro momento é completamente previsível. Monótono. OPEN YOUR MIND? Eu te recomendo melhor... LEIA.