terça-feira, 15 de junho de 2010

O Cantil

O espetáculo “O Cantil” é uma produção da Companhia Teatro Máquina (Ceará/BR) fundada em 2003. É uma direção de Fran Teixeira, que também dirige o grupo desde a sua fundação. Ela é autora do livro “Prazer e crítica: o conceito de diversão no teatro de Bertold Brecht”, que situa o dramaturgo alemão mais importante do século XX como um dos expoentes do teatro épico. Para Teixeira, está no gesto o modo mais fértil de expressar essa vertente artística que, ainda hoje, diz muito para a nossa existência. “O Cantil” é um espetáculo que nasce do texto “A exceção e a regra” escrito por Brecht (1898-1956) nos anos 30 e que trata da relação de dependência entre os dois personagens: o explorador e o explorado. O explorador precisa explorar. O explorado precisa ser explorado. As identidades se constroem a partir de sua relação com o outro e esse é um tema bastante presente hoje sob muitos pontos de vista, sobretudo aqueles ligados à necessidade de ser importante para outrem.

Optando por utilizar uma técnica japonesa de manipulação chamada Bunraku, o grupo cearense que vem, desde 2008 recebendo muitos aplausos do público e da crítica, optou por excluir os bonecos, mas manter a relação de dependência. Dois atores se deixam manipular por outros utilizando vendas nos olhos e o corpo todo coberto. Há alças nos seus punhos, na cintura e na cabeça: o elenco se divide em atores personagens e atores manipuladores.

Um empresário cruza o deserto para acertar um contrato de exploração de petróleo. Com ele seguem um guia, logo dispensado, e um carregador. A simplicidade do roteiro, que se utiliza da primeira parte do clássico brechtiano, se baseia na relação binária: um se subjuga, o outro é subjugado.

Destaca-se, nessa encenação, a visualidade tocante. Os quarenta minutos sufocam o espectador de tantas relações que esse é convidado a fazer com seu próprio meio de se relacionar. Não há uma só palavra nesse projeto todo baseado na corporalidade dos seus intérpretes, no desapego, na confiança plena.


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Ficha Técnica:

Direção: Fran Teixeira

Elenco: Aline Silva, Ana Luiza Rios, Edivaldo Bastista, Jonahthan Pessoa e Levy Mota

Cenografia: Frederico Teixeira
Figurinos: João Zabaleta
Desenho de Luz: Walter Façanha
Trilha sonora original e sonoplastia: Dustan Gallas
Produção: Levy Mota
Realização: Teatro Máquina
Duração: 40min
Classificação etária: livre



Hamelin

Hamelin” foi escrito em 2005 pelo dramaturgo espanhol Juan Mayorga (1965. Prêmio Valle-Inclán, em 2008, por La Paz Perpétua) dando ao seu autor o prêmio Max de Melhor Autor Teatral em Madrid. Conta a história de um jovem juiz que está determinado a provar que um importante membro da sua sociedade abusou sexualmente de uma criança. Ao lutar para reunir provas, O Juiz Monteiro (Vladimir Brichta) descobre o quão difícil é encontrar culpados e distinguir o bem do mal. Com uma atmosfera próxima dos filmes de suspense e através de uma dramaturgia não convencional, o espetáculo, que participará do 17º Porto Alegre em Cena, revela a impotência de uma sociedade em proteger a inocência das suas próprias crianças e a impossibilidade de se chegar a uma única conclusão quando palavras são tudo o que se tem para apurar uma verdade.

Com direção de André Paes Leme, professor do Departamento de Direção Teatral da UNIRIO com Mestrado em Estudo de Teatro pela Universidade de Lisboa, os atores de “Hamelin” assumem, além dos seus personagens, a função de comentar a cena, conduzir e questionar o olhar do público nesse espetáculo em que as rubricas foram escritas para serem ditas. O jogo é nítido e as suas regras são reveladas para o público desde o início. A cena se desenha apoiada firmemente na interpretação dos atores, na dinâmica das suas marcas e na integração dos espectadores.

O espetáculo, que já foi encenado em 11 países do mundo, foge da tradição ilusória, sustentando uma atmosfera próxima dos filmes de suspense. Os atores mantêm, ao longo da narrativa, uma forte carga emocional sem perder, no entanto, o distanciamento necessário para a suscitação de um olhar crítico.

“Através do teatro podemos pensar na vida, na nossa existência individual e também no modo que nos organizamos como sociedade. O teatro não pode substituir a política, cujo objetivo deveria ser a luta concreta contra as injustiças concretas, mas ele pode nos preparar para a vigilância e a resistência contra formas de dominação do homem pelo homem. Eu também sinto o alívio que todos sentem quando a polícia anuncia a prisão de um monstro. Mas, depois, penso na saúde da sociedade que gerou esse monstro, e se eu ajudo de algum modo na extensão dessa doença. Pessoalmente, desconfio de um teatro que consiste em denunciar monstros frente aos quaiso espectador se sente inocente. Eu quero que o espectador saia de “Hamelin” se sentindo mais responsável, e não inocente”, declara Mayorga, que escreveu o espetáculo levando em conta diversos escândalos sobre pedofilia.

“Hamelin” é uma alusão ao conto “O Flautista de Hamelin”, que versa sobre o desaparecimento de todas as crianças de uma pequena cidade após a mesma ser salva de uma praga de ratos por um flautista. Segundo a narrativa, a população se recusa a pagar o músico, que decide então deixar a cidade levando todas as crianças. Para Mayorga, há uma nítida relação entre as duas histórias. “As crianças pagam pelas faltas dos adultos. Eu vejo isso como uma alegoria do que acontece no nosso mundo. As crianças são as primeiras a sofrer com nossas guerras, nossas más políticas, nossa estupidez. Minha obra não é a reconstrução de nenhum caso verdadeiro, entretanto, o que vem acontecendo é que, onde “Hamelin” é montada, o público a associa a algum caso ocorrido no lugar. Infelizmente, o que se representa na peça parece estar acontecendo, com traços muito semelhantes, em todo o mundo.”

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Ficha Técnica:
Texto: Juan Mayorga
Tradução: António Gonçalves e Patrícia Simões
Direção: André Paes Leme

Elenco: Vladimir Brichta, Alexandre Dantas, Alexandre Mello, Claudia Ventura, Oscar Saraiva e Patrícia Simões

Cenografia: Carlos Alberto Nunes
Figurinos: Luciana Maia
Desenho de Luz: Renato Machado
Direção Musical: Lucas Ciavatta
Direção de Produção: Andrea Alves e Claudia Marques
Produção Executiva: Leila Moreno
Coprodução: Sarau Agência de Cultura Brasileira e Fábrica de Eventos
Idealização: Dupla Arte
Duração: 1h30min
Classificação etária: 16 anos.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Pedro Abrunhosa & Comitê Caviar


Três anos depois de Luz, Pedro Abrunhosa regressa – e parte para Longe. Um disco que corresponde rigorosamente à sua necessidade de mudança e de quebrar rotinas e fórmulas resolventes. Atingiu o primeiro lugar do top de vendas na primeira semana de vida e, hoje, já tem o merecido Disco de Ouro.

A equipe técnica desse novo trabalho conta com João Bessa no posto-chave de co-produtor. A banda de apoio, o Comité Caviar (Cláudio Souto nos teclados e órgão, Marco Nunes e Paulo Praça nas guitarras, Miguel Barros no baixo, Pedro Martins na bateria e na percussão, Eurico Amorim no piano e Patrícia Antunes e Patrícia Silveira nos coros), que foi fundamental na gravação do álbum, está também  presente no palco.

O som manifesta um apelo interior: encontrar a essência, deixar emergir outras raízes impolutas: os amores no jazz e no funky, a canção européia. Nessa mistura, Pedro Abrunhosa mostra o valor do grande som do rock americano.

Pedro Abrunhosa, com toda a legitimidade, se orgulha do seu passado, mas o que o motiva é mesmo este presente orgânico e perene. Um presente que é feito para ser servido já, fresco e imenso.

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Ficha Técnica:
Pedro Abrunhosa: voz / piano
Cláudio Souto: teclados
Marco Nunes: Guitarra
Miguel Barros: Baixo
Paulo Praça: Guitarra
Pedro Martins: Bateria

Surdomundo


“Surdomundo” (Sul do Mundo) é um espetáculo que reúne sete dos mais interessantes artistas do sul da América do Sul para que eles misturem suas canções, seus temas, suas histórias com os clássicos ouvidos no Uruguai, Argentina e Brasil. Quase todos são compositores e esse dado faz crescer no show o seu caráter único. Os músicos não estão reproduzindo, mas recriando.

A idéia original veio do músico gaúcho Arthur de Faria e do produtor argentino Carlos Vilhalba. A dificuldade maior não poderia ser outra: como combinar a agenda de tantos artistas de importância continental? Mas em Buenos Aires, no mês de julho, isso será possível. Depois o nosso 17º Porto Alegre em Cena. Segue São Paulo e, quem sabe, o mundo...

O repertório é composto de composições marcantes do universo de cada músico, além de outras contribuições como, por exemplo, Adoniran Barbosa. O que se espera é que essa sonoridade única, apesar da existência atroz do urbano, traga para si e para o público as diferentes tradições dos diferentes músicos, seus trabalhos pessoais e em conjunto. São aproximações possíveis que logram o que as distâncias impossíveis.

Os músicos são:

(cada nome abre para uma página com vídeos de cada músico)

Cancionero Rojo

Ok. De quem é a culpa por tanta coisa ruim que está acontecendo no mundo?

E, assim, começa “Cancioneiro Rojo”, um espetáculo surdo e absurdo. Uma viagem na história da humanidade feita não por dois filósofos, dois historiadores, sociólogos, cientistas. Mas dois palhaços, Neto (Dario Levin) e Una (Lila Monti). A inocência, a graça, a teimosia dos palhaços que, movidos por curiosidade e rebeldes ao conformismo resolvem pesquisar nos personagens e nas situações duras da história explicações para hoje.

Duas malas. Um palco vazio. Os dois atores vivem seus personagens num campo pleno e fértil. Ali podem construir centenas de anos e várias situações. O espetáculo, que estreou em 2007, veio depois de Cancionero Negro, cheio de canções de amor. Ambos são o resultado de uma trajetória de pesquisa que envolveu e envolve cursos, nomes e participações importantes em várias oportunidades pelo mundo. Só para citar um, Levin foi aluno na escola de Philippe Gaulier, na França.

A linguagem de quem pergunta mais que reponde faz criar uma profunda reflexão sobre a vida, sobre os fazeres sobre o hoje, embora sejamos convidados a olhar para o ontem. Enquanto sorrimos, a dureza triste aparece. O divertimento nos convida ao trabalho. Os minutos passam, mas o que vemos são séculos.
 

"Cancionero Rojo" já participou do V Festival Internacional de Teatro del Oriente Antioqueño, XIV Festival Internacional de Arte y Cultura Ricardo Nieto (Colombia). Também do Festival Patacómico del Bolsón e da Pequeña Gira Patagónica, além do IX Encuentro Internacional de Teatro "Otoño Azul".

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Ficha Técnica:
Diretor do Espetáculo: Lorena Vega
Autor: Lila Monti e Dario Levin e Lorena Vega

Elenco: Lila Monti e Dario Levin

Assistência de Direção: Mariano Mandetta
Iluminador: Ricardo Sica
Figurinos: Mariela Berenbaum
Cenário: Valeria Álvarez
Trilha Sonora: Agustin Flores Muñoz
Editor de Som: Guilhermo Rey
Coreografia: Lucio Baglivo
Arte Gráfica: Petre
Fotografias: Ezequiel Kopel
Produção Executiva: Rebeca Checa

Duração do espetáculo: 1h10min
Classificação: Livre

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Reflejos


Francisco precisa decidir quem vai ocupar a vaga de subdiretor da empresa. Há duas opções: Federico, o mais indicado para o posto, mas é o atual namorado de Florencia, sua ex; Lucrecia, tão boa quanto é Federico, apesar de ninguém gostar dela. O enredo seria banal, se dissesse mais do que aparenta: quantos há em uma só pessoa? E quais as conseqüências de uma múltipla existência?

Matías Feldman tem 33 anos. É pianista, ator, diretor e dramaturgo. “Reflejos” está entre seus trabalho de 2008, numa obra que começou a ser difundida em Buenos Aires após 2002. Hoje, sua jovialidade lembra um tempo em que ele era inexperiente na tarefa de contar histórias. Sua trajetória é preenchida de prêmios, distinções, montagens que atualizam os jogos cênicos que ele cria.

No caso de “Reflejos”, a ambição domina a cena, a catástrofe permeia o movimento. Caem a cenografia, o cenário e a luz. Fica o texto que parece ganhar cada vez mais força na capital argentina nas mãos de jovens talentosos como Feldman. Uma obra em que a peça se reflete na platéia e a assistência sob a luz. Os atores no público e nós nos personagens. A combinação de austeridade e intensidade que derrama da narrativa e atinge, felizmente, o 17º Porto Alegre em Cena com vigor.

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Ficha Técnica:

Texto e Direção: Matías Feldman

Elenco:
Javier Drolas
Maitina De Marco
Juliana Muras
Luciano Suardi
Lorena Vega

Duração: 1h30min
Classificação: Livre

Hilda Hilst – O espírito da coisa

Hilda Hilst (1930-2004) é uma das escritoras brasileiras cuja obra consegue ser quase tão interessante quanto à vida e vice-versa. Filha de um pai esquizofrênico e de uma mãe chamada Bedecilda, estudante de direito, atraiu os olhares de grandes poetas, escritores, alta classe paulista. Em viagem à Europa, fez-se passar por jornalista e cortejou Marlon Brando. Grande poeta e dramaturga mais conhecida no exterior do que no Brasil, o primeiro livro em prosa (Fluxo-Floema, 1970) veio tardiamente. Há quatro anos, ela tinha abdicado de toda a vida social e ido morar na fazenda onde nascera. Lá construiu com o marido, o escultor Dante Casarini, a Casa do Sol, lugar essencial para muitos artistas da safra 60-70-80, entre eles, Caio Fernando Abreu, que chegou a morar com Hilda Hilst. Após ter lançado muitos livros e feito muito sucesso na crítica mundial, em 1990, dá adeus à literatura “séria”. Lança “O caderno rosa de Lori Lamby” que é rechaçada pelos colegas intelectuais. Os livros populares continuam sendo lançado e a autora passa a ser conhecida pelo grande público. Ao longo de cinqüenta anos como escritora que investiga a relação homem e Deus, pode-se dizer, sobre ela, que “conseguiu qualidade excepcional em todos os gêneros literários a que se propôs – poesia, teatro e ficção. “ (Anatol Rosenfeld).

Assim, ficar mais próximo do universo dessa grande artista é o melhor proveito, entre tantos outros, que podemos tirar do espetáculo “Hilda Hilst – O espírito da coisa”.

Com uma direção de Ruy Cortez, que inclui no seu currículo como diretor Dostoievski, Tchekov, Schiller, Brecht, Tennesse Williams, Jean Giraudoux, Plínio Marcos, Chico Buarque, entre muitos outros), o espetáculo teve Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte de Melhor Atriz para Rosaly Papadopol.

Num misto de espetáculo biográfico (bem pouco) e atualização teatral da obra da escritora (muito), a peça está situada num único cenário: plantas, cachorros, livros e maquina de escrever. Destaca-se ainda o trabalho do compositor Edson Tobinaga, que se voltou para a criação das músicas especialmente compostas para o espetáculo, permeando a obra de Hilda Hilst: o ritmo e a dinâmica de sua prosa; o caráter melódico-harmônico de seus versos; sua “ode descontínua”, suas “árias pequenas”, seus “prelúdios intensos”, significativos de um imenso repertório de afetos musicais. A música pretende valorizar o descontínuo, o arioso, o “pré-lúdico” e intenso em Hilda Hilst. Para tanto, farão menção a pelo menos dois compositores com alguma afinidade estética com o universo hilstiano: Erik Satie (1866-1925) e Giacinto Scelsi (1905-88).

São 75 minutos de espetáculo sobre essa tão importante escritora que viveu 74 anos. O espetáculo é o resultado de uma pesquisa de 10 anos em torno de sua vasta obra.

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Ficha Técnica:
Concepção e Atuação: Rosaly Papadopol
Direção: Ruy Cortez
Participação especial: Antonio Abujamra (VOZ em OFF de Apolônio - pai de Hilda Hilst)
Dramaturgia: Gaspar Guimarães
Coordenação de Dramaturgia: José Antônio de Souza
Consultoria Literária: José L. Mora Fuentes
Cenografia: André Cortez
Figurino: Anne Cerrutti
Iluminação: Fábio Retti
Direção Musical: Tunica
Música especialmente composta: Édson Tobinaga
Cenotécnico e Adereçista - Cesar Rezende
Visagismo: Westerley Dornellas
Projeto Gráfico: Dado Motta
Ilustração para material gráfico: Olga Bilenky
Gravação em Vídeo/ Teaser/ Clip: Gustavo Haddad
Pesquisa: Rosaly Papadopol (colaboradores - Gaspar Guimarães e Ruy Cortez)
Assistência de Produção e Logística: Barbara Thire
Direção de Produção: Maria Betania Oliveira
Realização: Samadhi Produções
Apoio Cultural: Instituto Hilda Hilst
Duração: 75 minutos
Classificação: 16 anos

Foto: Divulgação / João Caldas

Solo Brumas

“Nascido vivo é a expulsão ou extração completa do corpo da mãe independentemente da duração da gestação de um produto da concepção que, depois de feita a separação, respire ou dê qualquer outro sinal de vida, tal como batidos de coração, pulsações do cordão umbilical ou movimentos efetivos dos músicos de contração voluntária, tanto tendo sido já cortado o cordão umbilical ou esteja ou não desprendida a placenta. Cada produto de um nascimento que reúna essas condições se considera como um nascido vivo.”

Essa é a definição de recém-nascido da Organização Mundial da Saúde que recebeu, em 2004, na Argentina, um acréscimo. “Deverá pesar mais de 500 gramas.”

A situação: por dia, em Tucumán, morrem 25 crianças diariamente. O acréscimo na definição da OMS reduz o número, melhora a estatística. Mas não resolve as mortes.

Esse é o material com que lida o ator e dramaturgo Eduardo “Tato” Pavlovsky no espetáculo “Solo Brumas”. O cotidiano e sua monstruosidade. A natureza terrível que se esconde no costume, na prática, no dia a dia da rotina. O cotidiano que banaliza, que causa sutis e irremediáveis situações. Aquilo que, de tão perto, torna-se difícil de alcançar. Universo esse de indiferença que tem sido investigado pelo artista argetino desde “El señor Galindez" e "Telarañas" na década de ’70.

Nascido em 1933, Pavlovsky é o fundador do psicodrama na Argentina. O espetáculo marca o seu compromentimento com um teatro que só tem um sentido, o de nos empurrar para transcender nossa visão estereotipada, nossos sentimentos convencionais, nossos hábitos, nossos juízos, provenientes de uma moral impostora, não pela simples questão de destruir tudo isso, mas principalmente para que possamos experimentar o real, e prescindir nossas cotidianas fugas, nossos cotidianos fingimentos, em um estado de total desvalimento, tirar-nos os véus , dar-nos, descobrir a nós mesmos.

A direção é assinada por Norman Briski, artista que, em importância nacional, pode ser comparado a Augusto Boal. Seu trabalho, voltado para o estudo do repertório clássico traz uma direção firme e uma concepção amarrada para o texto escrito em 2009. Briski e Pavlovsky foram militantes contra a ditadura argentina. Hoje, militam em favor de um teatro vivo, que se faz vivo sempre e não se cansa de aproveitar o dia em que o palco é iluminado para respirar.

Respiração essa que é um direito de quem tem menos de 500 gramas.

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Ficha Técnica:

Texto: Eduardo Pavlovsky
Direção: Norman Briski

Elenco: Mirta Bogdasarian, Susy Evans, Eduardo Misch e Eduardo Pavlovsky

Voz em Off: Marcelo D’Andrea
Figurino: María Claudia Curetti
Cenografia: Bea Blackhall
Desenho de Luz: Norman Briski
Desenho de Som: Martín Pavlovsky
Técnico de Gravação: Miguel Gentile
Assistência de Cenografia: Fabia Battauz, Maria Pia Molina Brescia
Assistência Técnica: Andrés Bailot
Assistência de Direção: Eliana Wassermann
Coreografia: Silvia Laguna

Duração: 1h15

Classificação: 14 anos

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Um Navio no Espaço ou Ana Cristina Cesar

Corria o ano de 1982. Paulo José havia sido incumbido pela Rede Globo de criar um programa que concorresse com o líder de audiência da época na “Hora da Ave-Maria” – o popularesco "O Povo na TV", exibido pelo SBT. Nascia assim o "Caso Verdade", que dramatizava e exibia, em minisséries de uma semana de duração, histórias verídicas enviadas pelos telespectadores. Recém chegada de Essex, Inglaterra, onde recebera com distinção o título de Master of Arts (M. A.) em Teoria e Prática de Tradução Literária, Ana Cristina César, que os gaúchos conhecem pela sua troca de cartas com Caio Fernando Abreu, integrava o Departamento de Análise de Textos da Globo. Ela costumava ser implacável com os roteiros do programa: “folhetinesco, superficial, simplório, inverossímil” eram alguns dos adjetivos que povoavam seus relatórios. E assim, em pouco tempo, diretor e analista de roteiros tornaram-se, na definição do próprio Paulo José, “inimigos quase íntimos”.

No mesmo ano, fora já dos quadros da TV Globo, Ana Cristina Cesar lançava "A Teus Pés", seu segundo e último livro de poesia. A sofisticação, a visceralidade e a excelência da poesia produzida pela ex-colega deixaram Paulo José, um amantíssimo do gênero, simplesmente pasmado. Em 29 de outubro de 1983, Ana Cristina punha fim à própria vida, atirando-se do 8º andar pela janela do apartamento de seus pais em Copacabana. Aos poucos, a produção inédita da escritora foi sendo editada, revelando novos conteúdos de sua fina escrita. Além de mais prosa e poesia, ensaios, estudos, reflexões sobre o fazer literário, críticas, traduções[1], correspondências. E quanto mais penetrava no amplo universo da produção literária de Ana Cristina Cesar tanto mais Paulo José lastimava o fato de ter passado “um ano a um metro de distância dela” sem desfrutar do privilégio de conhecê-la melhor.

O espetáculo “Um Navio no Espaço ou Ana Cristina Cesar”, que participa do 17º Porto Alegre em Cena, se apropria desse sentimento e dessa experiência para criar seu arco dramático. Ao rememorar a história que viveu (ou deixou de viver) com Ana Cristina, Paulo José, o personagem que é interpretado pelo próprio ator e diretor, evoca a figura da poeta para tentar entender a mulher por trás do mito. Refaz com ela sua trajetória literária e existencial – dos seis anos de idade, quando tem seus primeiros poemas publicados, aos 31, quando se despede da vida.

Com cerca de 90% do texto extraído de poemas, prosas, cartas e diários da autora, o espetáculo presentifica na cena o vigor, o teor e a dicção singular da palavra poética de Ana Cristina Cesar (l952-l983). Através dela, traz à tona sua busca, suas angústias, suas inquietações. Expõe os seus enigmas. E lança sobre o tabuleiro as incontáveis peças da personalidade cindida e múltipla que a fez descrever uma trajetória de heroína trágica – curta, intensa, incomum, radical. Mas deixa para o público a tarefa improvável de montar o quebra-cabeça.

Com direção de Paulo José, e Ana Kutner no papel-título, Um Navio no Espaço... foi construído a partir de uma peça escrita em 1996 por Maria Helena Kühner. Em parceria com a Caravana Produções, pai e filha acumulam ainda a função de co-produtores do espetáculo.

O palco se projeta como extensão diagonal do tampo de uma mesa – uma espécie de estação de trabalho de Paulo José. Abarrotada de objetos de pesquisa (pilhas de livros, mídias dos anos 70, laptop, caderno de anotações), ela desloca do espaço cênico tradicional o ator-personagem, situando-o no nível da platéia, e reforçando o traçado geométrico e perspectivado da cenografia. O trabalho de videografismo e animação de Rico e Renato Vilarouca simula de forma estilizada a produção em tempo real de desenhos, manuscritos e originais a máquina de escrever de Ana Cristina Cesar, tradutora de, entre outros poetas, T. S. Eliot, Ezra Pound, Emily Dickinson, Mallarmé e Walt Whitman, trazendo para a cena a ‘presença viva’ da palavra escrita e a natureza febril do processo de criação da poeta.

Oito espelhos suspensos de 90 cm X 1m, multiplicam e distorcem as imagens projetadas, sugerindo a ideia de puzzle. A iluminação de Paulo Cesar Medeiros opera uma interação estreita com o videografismo: se apropria das imagens e faz com que a luz dos refletores seja projetada sobre o vídeo, ajudando a criar sensações visuais para a fúria e a delicadeza das palavras de Ana C. Na busca do fino equilíbrio entre não produzir interferências nas projeções, no desenho de luz ou na estética clean do cenário, e, ao mesmo tempo, estabelecer um diálogo rico com eles, Kika Lopes lança mão de diferentes tipos de trama, tons extremos de claro e escuro (como o cru e o marinho) e economia de cores e adereços. E imprime aos figurinos atemporalidade própria da palavra.

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Ficha Técnica:

Texto: Maria Helena Kühner
Dramaturgista: Walter Daguerre
Direção: Paulo José

Elenco: Paulo José e Ana Kutner

Cenário: Fernando Mello da Costa
Figurinos: Kika Lopes
Iluminação: Paulo César Medeiros
Trilha sonora: Alexandre Elias
Videografismo e animação: Rico Vilarouca e Renato Vilarouca
Produção Executiva: Lucia Regina Souza
Direção de Produção: Maria Helena Alvarez
Produção: Carava Produções, Malagueta Produções eAna Kutner
Realização: SESC-SP

Duração: 1h20min
Classificação: 14 anos  

Sissy!

Sissy! faz parte do projeto de doutorado prático de Nando Messias na Central School of Speech and Drama, University of London. Em sua pesquisa, Messias investiga, através da teoria Queer, conceitos de formação corporal de gênero, violência física, abuso verbal e ocupação de espaço urbano. Sissy! procura desenvolver estas idéias em prática no espaço do palco. O foco principal do espetáculo está centrado no conceito de ‘sissiografia’ do corpo, criado por Messias em seu doutorado. Em outras palavras, Sissy! descreve o processo de escrita do conceito ‘sissy’ (o que equivaleria literalmente em português à expressões de abuso como ‘bicha’ ou ‘veado’) no corpo do performer. A escolha do nome ‘sissy’ como título da performance é, portanto, em si, uma tentativa de engajamento com o processo crítico que Foucault denomina ‘reverse discourse’ (discurso invertido).

O processo dramatúrgico de Sissy! se desenvolve a partir de uma série de estratégias cênicas. Entre estas, se encontra o paralelo comparativo que se estabelece entre os corpos dos dois performers em cena. Com o auxílio de figurinos, Biño Sauitzvy, que também assina a direção, representa o lado masculino: o boxeador. Seu corpo é atlético, forte e musculoso. O contraste com a figura do boxeador se estabelece, desde o início, com o uso de elementos comumente percebidos como sendo pertencentes ao vestuário feminino. Estes figurinos são também usados aqui de uma maneira hiperbólica, pois a versão feminina que Nando Messias apresenta no palco não é somente feminina, mas ‘ultra-feminina.’

Também simbólico dentro do discurso desenvolvido durante a performance é a cor rosa. Sissy! Focaliza porém no uso hiperbólico da cor rosa desde o uso da maquiagem (blush cor-de-rosa) no início, até o vestido de fru-fru cor-de-rosa que aparece no final da performance, dentro de uma caixa de presente, também cor-de-rosa, enrolada em uma fita de cetim cor-de-rosa.

Sobre a concepção do espetáculo, diz Sauitzvy:

“A busca de uma estética própria, que nasça da criação pessoal de cada membro de um grupo, sai do caminho da construção do teatro e da dança tradicionais. Nós não par­timos de um texto dramático pré-estabelecido. Nós somos ao mesmo tempo atores, dançarinos e dramaturgos. Nós somos os construtores de uma dramaturgia corporal performática. Os criadores de uma performance que é, ao mesmo tempo, ação e escritura cênica. Nós escrevemos no espaço com nosso corpo, nossa voz. Nós viemos de dife­rentes horizontes e nos reunimos para criar. A dramaturgia aqui é a performance, a ação das sensações, das histórias pessoais, de diferentes modos de existên­cia, da observação da vida externa como um reflexo da vida interna. É o indivíduo fragmentado que nos interessa. Um ser cujo pensamento é ilógico, não narrativo-cientifico, um homem desprovido de um raciocínio “causa e conseqüência”. É o indivíduo que é entre o teatro, a dança, o gesto inaca­bado, o movimento, a imagem, a performance, a musica. Nós buscamos um homem performático, contaminado, híbrido.”


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FICHA TÉCNICA

Diretor do Espetáculo: Biño Sauitzvy

Elenco: Biño Sauitzvy e Nando Messias

Iluminador: Claudia de Bem

Figurinos: Biño Sauitzvy e Nando Messias

Produção: Claudia de Bem e Collectif des Yeux

Duração do espetáculo: 60 min




Classificação: 16 anos

2x3+1=7 ou l'impossibilite de nommer les choses


Terceira parte da série de performances de dança/teatro, “2x3+1=7" parte da mise-en-scène do performer. É o encontro de dois mundos individuais é o objeto de investigação, cujo processo se apresenta no 17º Porto Alegre em Cena. Os mundos, ou mônadas (um universo particular, individual, único, e que contém em si características contidas igualmente em outras externas a si) têm suas escrituras assinadas coreograficamente por Biño Sauitzvy e por Luciana Dariano. Uma escritura que toca a pele, como púrpura nas bochechas de uma criança. Memórias furtivas, um passeio pelo campo sensorial.

A dramaturgia está no campo do possível. Primeiramente, há o encontro como um conceito para a construção de uma performance autobiográfica. Depois, o encontro de duas individualidades, duas mônadas numa só situação. Uma dança num teatro vazio. Roupas que colam no corpo: ela, um vestido xadrês e sapatos que remetem à infância. Ele, botas de operário, camiseta de física, calças com suspensório. Um tango incessante e vertiginoso que nunca deixa de oscilar entre a vida e a morte.

Esta pesquisa é a continuação do processo iniciado na construção das performances solo de dança/teatro “La Divina” e H to H”. A partir da busca da criação individual, alimentada pelas influências de outros artistas e de outros processos de formação (prático/artístico/pessoal), o desejo manifestado pelos artistas foi o de criar uma rota progressiva, que se torna a obra em si. Uma obra que está nas idas e vindas do que existe no imaginário pessoal, no que é encontrado na “realidade pronta”. Esse work in process fala do fragmento como forma independente (peça, pedaço, que pode ser parte de outro sistema e, portanto, ser e existir de outra forma).

Então, nada de espetacular (mas, ao mesmo tempo, tudo), nem a sombra da sedução: eles (o homem e a mulher) extenuam-se no palco. Ao espectador fica o sentimento de que algo é arrancado da fonte e transporta: a energia vital de Biño Sauitzvy e Luciana Dariano.

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FICHA TÉCNICA:

Diretor do Espetáculo: Biño Sauitzvy

Elenco: Biño Sauitzvy e Luciana Dariano

Iluminador: Claudia de Bem

Figurinos: Collectif des Yeux

Produção: Claudia de Bem e Collectif des Yeux

Duração do espetáculo: 55 min

terça-feira, 8 de junho de 2010

Final de Partida

Escrito em 1957, “Fim de Partida” sucedeu “Esperando Godot” na dramaturgia do irlandês Samuel Beckett (1906-1989), talvez, o escritor que melhor conseguiu estabelecer o universo trágico na possibilidade contemporânea de vida e morte. Quatro personagens estão reunidos dentro de um espaço. O texto abre condições para pensar numa relação familar entre eles, mas não deixa isso claro. Tampouco como foram parar nesse ambiente. Ou porque não saem. Não sabemos o que acontece lá fora, o que é lá fora, assim como podemos duvidar que estamos realmente dentro de algo. Esse universo de dúvida que prende e que nos obriga a nos conformarmos é o que relaciona a história aos trágicos enredos que envolviam destinos traçados e deuses do Olimpo. Porém, lá a prisão é externa e os grandes heróis se rebelam pagando, depois, o preço. Aqui, em Beckett, há o compromisso em não se individualizar, em não protagonizar, em não haver conflito.

O conflito do fim dessa partida é a interrogação do início dela. Quando começou e de quem é a culpa? O que acontece hoje é a conseqüência de uma causa anterior? Então, diante da tristeza que cresce, o público é levado a refletir sobre seu permanecer. Fica-se no emprego, em relações. Mantém-se os sonhos, as memórias, os planos. Fica-se. Permanece-se. Mas o jogo só termina quando outro começa. Beckett não deixa oportunidade para outro começar e esse universo sempre anterior a algo é seu discurso instigante. Nobel de Literatura em 1969, sem dúvida, é um dos dramaturgos mais ricos do último século.

A montagem que participará do 17º Porto Alegre em Cena é uma das produções mais aplaudidas de Héctor Manrique, um dos mais importantes diretores teatrais da Venezuela. É o diretor do Grupo Actoral 80 e do Centro Latinoamericano de Criação Teatral.

"Uno llora, llora, por nada, por no reír -exclama Hamm - y poco a poco, una verdadera tristeza nos invade."

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Ficha Técnica:
Autor: Samuel Beckett
Diretor: Héctor Manrique

Elenco:Juvel Vielma, Daniel Rodríguez, Juan Vicente Pérez, Melissa Wolf

Assistente de Direção: Jesús Cova
Iluminador: José Jiménez
Duração do espetáculo: 1h45min

Electra


Electra espera seu irmão Orestes chegar para, junto ele, darem fim aos assassinos de seu pai Agamenon. Os dois matarão Clitemnestra, sua mãe, e Egisto, amante dela. Electra é sujeito.

Clitemnestra morrerá pela mão de seus filhos. Mesmo confessando que tratara Electra mal durante seus últimos anos para que seu amor maternal não desagradasse o novo marido a ponto de fazer a enteada sofrer em suas mãos, não tendo dos filhos o perdão pelo assassinato de seu ex-marido, é morta. Electra é objeto do destino de sua mãe.

Orestes matará sua mãe e o amante dela ao chegar a Argos vindo da Fócida para onde foi enviado pela irmã Electra. Foi o meio que ela encontrou para salvar o irmão da ira de Egisto, assassino de seu pai. É com a ajuda de quem outrora lhe salvou que consumirá o fato. Electra é adjuvante.

Electra viva se opunha ao governo de Egisto em Micenas. Era um espinho na vida do casal real. Electra é oponente.

Marisa Betancur estreará no 17º Porto Alegre em Cena o espetáculo Electra, tragédia grega escrita no final do século V antes de Cristo. Contada também por Eurípides e por Ésquilo, a produção uruguaia encenará o texto de Sófocles (497-405 a.C.). Mas só Betancur irá dizer qual ponto de vista de Electra o espetáculo realizará entre tantas opções, algumas delas lançadas acima. E é essa a novidade do teatro: sempre há pontos de vista diferentes, o texto é sempre novo.

Atriz e diretora profissional, Betancur é formada pela Escola de Arte Dramática em 1984, desde então, com um currículo vasto em trabalhos e prêmios. Não menos se pode dizer de Gabriela Iribarren, que interpretará a protagonista. A montagem de 2010 sucede “As Troianas”, de Eurípides, que estreou em 2007 e participou do 14º Porto Alegre em Cena.

Chama-se a atenção para o trabalho de Verónica Lagomarsino na construção dos figurinos que vestirão os personagens helênicos trazidos ao palco do nosso festival pelo Uruguai. Uma produção do Instituto de Atuação de Montevideo com quinze atores, um cenário disposto para fazer refletir as oras subidas, ora descidas do universo de Electra, iluminação e trilha sonora a acrescentar valores para a tragédia clássica tantas vezes contada, mas, aqui, de um jeito único. Única.

Recebeu, em junho, o Prêmio MONTEVIDEO CIUDAD TEATRAL, um dos prêmios mais importantes do Uruguai.


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FICHA TÉCNICA
Direção: Marisa Bentancur


Elenco: Gabriela Iribarren, Lucas Barreiro, Rosa Simonelli, Gustavo Bianchi, Virginia Rodriguez, Gabriela Palomera, Victoria Novick, Rosina Carpentieri, María Inés Dutour, Paola Ferreira, Daniela Mosca, Danna Liberman, Gustavo Suarez, Liliana Curto

Iluminação: Martín Blanchet
Trilha Sonora: Sylvia Meyer
Cenografia: Diego Caceres
Figurinos: Verónica Lagomarsino
Duração do espetáculo: 1h20

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Lonesome cowboy

O homem e seu incessante desejo de dominar. O homem e seu senso de ser parte de um time. O homem e sua necessidade de se arriscar, de confrontar-se, de pertencer a um grupo. Philippe Saire (1957), coreógrafo argelino radicado na Suíça, internacionalmente aclamado pelas suas mais de quarenta coreografias assinadas, fundador, em 1986, da Compagnie Philippe Saire, usa uma poderosa dança para dar corpo a essas imagens. As numerosas facetas masculinas identificam o homem quando em oposição à mulher: o espírito de grupo, a solidariedade, o confrontamento, a reconciliação, a evasão são algumas das idéias que o “ser masculino” pode potencializar em sua complexa humanidade. Cinco dançarinos partem dessas sugestões para experimentar, com o corpo, relações físicas que agrupam, que inspiram e concretizam alguns códigos dentro do universo da arte. Em “Lonesome Cowboy”, vemos a linguagem corporal expressa por dançarinos cuja generosidade alcança a exaustão. Inicialmente criada para cinco artistas, a coreografia ganhou mais um bailarino. Hoje, a simetria voltou a ser dispensada. O espetáculo viaja pelo mundo com a idéia original de cinco pessoas em cena.

Questionamentos. Identidade. Força. O espetáculo de dança conversa, propõe e estabelece nada a não ser a proposta de. “Lonesome Cowboy” convida e seu convidar é vivo, é pulsante, é instigante ao convite, externo ao olhar do convidado. Um espetáculo viril em que a sensualidade masculina é explorada e exploradora. Como um todo, sentimos a força do homem dominar a cena e, então, descobre-se o olhar masculino a partir de pontos de vista não fáceis de ser utilizados. Mas reconhecíveis.



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Ficha Técnica:

Coreografia: Philippe Saire e seus dançarinos

Dançarinos:
Philippe Chosson
Pablo Esbert Lilienfeld
Matthieu Guénégou
Mickaël Henrotay Delaunay
Richard Kaboré

Figurinos: Isa Boucharlat
Desenho de Luz: Laurent Junod
Desenho de Som: Christophe Bollondi
Direção de Som: Jérémie Conne
Cenário: Sylvie Kleiber
Direção de Arte: Philippe Weissbrodt
Direção de Palco: Dominique Dardant e Yann Serez
Administração: Didier Michel
Assistente de Produção: Muriel Imbach
Realização: Claude Champion
Parceiros: Tennis-Club Lausanne e Ville de Lausanne, Etat de Vaud, Pro Helvetia – Swiss Arts Council, Loterie Romande.



Duração: 1h
Classificação: 16 anos

Chocolate



“A música é muito saborosa, é como se os sons fossem bocadinhos de chocolate!"

Chocolate é o nome do 12º disco da dupla Maria João e Mário Laginha, músicos portugueses que comemoram vinte e cinco anos de trabalhos em conjunto. O delicioso jazz do disco que será apresentado no show do 17º Porto Alegre em Cena traz, entre canções conhecidas, novidades imperdíveis:

1. I Have a Heart Just Like Yours

2. Goodbye Pork Pie Hat
Dedicada à memória de Lester Young, a música foi composta em 1959 por Charles Mingus sobre um poema de Joni Mitchell, poucos meses após o falecimento de Young, um dos mais importantes e influentes saxofonistas e clarinetistas Americanos.

3. I’ve Grown Accustomed to His Face
Última canção do musical ‘My Fair Lady’ de 1956, e que ilustra a raiva do Professor Henry Higgins ao facto da sua pupila Eliza Doolittle ter saido da sua vida, e o apercebimento crescente do quanto irá sentir a sua falta.

4. Sweet Suite

5. This Time

6. Modern Mode / I’m Old Fashioned
“I’m Old Fashioned”, composta em 1942 por Jerome Kern com letra de Johnny Mercer, foi escrita para o filme ‘You Were Never Lovelier’ com Fred Astaire e Rita Hayworth como protagonistas. A primeira gravação desta música pertence a Fred Astaire com John Scott Trotter e a sua orquestra, nesse mesmo ano.

7. If You Could See Me Now
Um dos primeiros sucessos na carreira de Sarah Vaughan, em 1946.

8. Mati Mati

9. When You Wish Upon a Star
Esta canção, introduzida no filme “Pinóquio” da Disney em 1940, e que foi cantada por Cliff Edwards na personagem de Grilo Falante nos créditos iniciais e finais do filme, ganhou esse ano o Óscar da Academia para Melhor Canção Original, sendo ainda hoje considerada pelo Instituto Americano de Cinema como a melhor canção da Disney e uma das 100 melhores músicas de sempre num filme.
Além da dupla, outros três músicos, também compositores, engrandecem, talvez, uma das atrações mais esperadas da edição desse ano do Festival. Informa Mário Laginha:

“O Alexandre Frazão e o Helge Norbakken são respectivamente o nosso baterista e o nosso percussionista preferidos. Estavam escolhidos à partida. Quanto ao Julian Arguelles e ao Bernardo Moreira, são músicos com quem tenho tocado regularmente ao longo dos anos e que achei que eram ideais para este projeto.”

Maria João, que foi cinturão negro de Aikido antes de se tornar cantora, ao longo de sua carreira já trabalhou com músicos reconhecidos internacionalmente. Entre eles, a pianista Aki Takase e a banda Cal Viva, e Ralph Towner, Dino Saluzzi, Bobby McFerrin, Joe Zawinul e Trilok Gurtu, entre outros. Ao lado de Laginha, para nós, o destaque está no disco “Chorinho Feliz”, gravado em comemoração dos 500 anos da presença portuguesa no Brasil. Nele participam Gilberto Gil e Lenine, Helge A. Norbakken, Toninho Ferragutti e Nico Assumpção.

A voz encorpada e o apurado detalhe musical das interpretações conferem elegância à nossa programação. O repertório traz classe. O jazz traz alegria. “Chocolate” trará, certamente, prazer.


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Ficha Técnica:

Voz: Maria João
Piano: Mario Laginha
Saxofone: Juian Argülles
Contrabaixo: Bernardo Moreira
Percussão: Helge Andreas Norbakken
Bateria: Alexandre Frazão
Duração: 1h30min
Classificação: Livre