terça-feira, 25 de maio de 2010

Tobari - Como um fluxo inesgotável


Há cinquenta anos, Tatsumi Hijikata (1928-1986) e Kazuo Ohno (1906) chocaram as platéias com sua nova dança. Ankaku Butoh, a dança das trevas, parecia grotesca, ofensiva aos padrões de beleza estética sustentados pelos bailarinos clássicos japoneses no país recém saído de duas bombas atômicas. Se hoje, ao assistir “Tobari – Como um fluxo inesgotável”, o Japão e o mundo recordam esse momento de ruptura artística é porque comparam a “monstruosa” exploração da feiúra e da condição humana e suas dores, expostas no que hoje conhecemos apenas como Butô, com o sublime trabalho dimensional de Ushio Amagatsu. “Tobari” é uma palavra japonesa que significa “cortina”, um pano que separa o espaço em duas partes, ou, ainda, o momento diário em que o dia se torna noite e a noite se torna dia. É esse o momento da encenação.

O palco é coberto de escuridão a não ser pelas estrelas que vemos de início. O ser humano aparece e ouvem-se gritos sussurrados, gritos silenciosos. Paradoxos. Antíteses: a tristeza e a alegria, a luz e a escuridão, a vida e a morte: tudo balança delicadamente como uma cortina. Três bailarinos pintados de branco, a marca do butô, aparecem na escuridão. Eles negam a individualidade e refletem a luz. Ação: grupos de bailarinos ricocheteiam no palco como astros nesse espaço. E são pegos pelo vento cósmico, estrelas que são. Tornam-se coloridos como a vida que dança, que baila, que festeja, que grita. É o final do espetáculo: o próprio Amagatsu aparece e solta um grito silencioso, tenso, educado, concentrado, expressivo. O coreógrafo já conta quase sessenta anos, esses envolvidos pelo estudo e prática do minimalismo, como também o seu colega e amigo de muitos trabalhos, o compositor Philip Glass. Não há quase nada em cena e a peça se organiza em nascimento, morte e renascimento. O ciclo vital.

Formado em 1975 por Ushio Amagatsu, da segunda geração de Butô, o Grupo Sankai Juku é um grupo essencialmente masculino cuja tradução do nome é “o ateliê da montanha e do mar”, fazendo referência à topografia japonesa. Desde 1980, o grupo se apresenta pela Europa em turnês anuais de apresentações e oficinas difundindo suas estética muito particular pelo mundo em diversas áreas não só na dança. Atualmente, o Sankai Juku é uma das companhias japonesas que mais se apresentam no exterior (mais de 43 países visitados regularmente, cerca de 700 cidades) com uma atenção toda especial para a França e o Théâtre de la Ville de Paris, onde, a cada dois anos, desde 1982, estreia suas novas criações.

Em 2001, Amagatsu lançou um livro chamado “Diálogo com a gravidade”. Segundo o coreógrafo, a gravidade é uma aliada do bailarino, não uma adversária. Enquanto o bailarino ocidental tenta esquivar-se da gravidade através de sua energia em saltos, piruetas, etc, o bailarino de Amagatsu dialoga com ela em um movimento em que tudo é concentração e economia de dispêndio muscular.

Nos mais de trinta anos de trabalho, Ushio Amagatsu coleciona várias distinções. O 17º Porto Alegre em Cena se sente muito honrado com sua visita e lista algumas delas:
- Chevalier des Arts et Lettres. França
- Presidente do júri dos “Rencontres Internationales de Bagnolet” - França
- Prêmio do Ministério das Relações Exteriores do Japão
- Prêmio do “Syndicat National de la Critique” por Trois Soeurs - França
- Prêmio da Associação dos Críticos do Japão
- “Laurence Olivier Award”: Melhor Produção Coreográfica por Hibiki - Inglaterra
- Presidente do Júri do “Toyota Choreography Award” - Japão
- “Art Encouragement Prize” do Ministério da Educação e Cultura do Japão
- “Grand Prix of the 6th Asahi Performing Arts Awards” - Japão
- Prêmio do “Syndicat National de la Critique” por Lady Sarashina – França

À lucidez e ao romantismo de “Tobari”, todos são convidados.
*

Ficha Técnica:

Estreia Mundial em 2008 – Théâtre de La Ville / Paris

Direção, Coreografia e concepção - Ushio Amagatsu
Música composta por Takashi Kako, YAS-KAS, Yochiro Yoshikawa

Elenco:
Ushio Amagatsu
Semimaru
Sho Takeuchi
Akihito Ichihara
Ichiro Hasegawa
Dai Matsuoka
Nobuyoshi Asai
Norihito Ishi

Direção tecnica: Kazuhiko Nakahara
Iluminação: Genta Iwamura
Chefe de palco: Tsubasa Yamashita
Som: Akira Aikawa

Co-produção:
• Théâtre de la Ville Paris, France,
• Kitakyushu Performing Arts Center, Fukuoka Pref. Japon
• Sankai Juku, Tokyo, Japon

Turnê brasileira realizada com com a ajuda da ACA (Agency for Cultural Affairs), governo do Japão - 2010
O Sankai Juku conta com o apoio da Shiseido.

Duração: 1h25min
Classificação: 16 anos

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