terça-feira, 27 de julho de 2010

Los caballos


Há histórias que, pela honestidade de sua desdita, merecem escapar do ouvido. Este é o caso do escritor uruguaio Mauricio Rosencof (1933), desde 2005, o Diretor de Cultura da Intendência Municipal de Montevideo.

Mauricio Rosencof nasceu em Florida (Uruguai), filho de imigrantes judeus que posteriormente se mudaram para Montevideo. Nos anos 50, ele se interessou por teatro, começando como ator, chegando a integrar a Institución de Teatro El Galpón. Depois, descobriu a dramaturgia, em que se destacou como um dos dramaturgos mais importantes do continente. Suas obras já foram traduzidas para inglês, português, francês, holandês, alemão e turco. Suas peças já foram encenadas, entre outros países, na Argentina, Suécia, Finlândia, Espanha, México, Alemanha, Noruega e em Cuba.

Em 1972, na qualidade de dirigente do Movimento de Liberação Nacional Tupamaros, foi detido e brutalmente torturado. Junto a outros oito companheiros deste Movimento, foi tomado por “refém” da ditadura e, por isso, mantido em situação de isolamento com características sobre-humanas até 1985, quando foi, finalmente, liberado.

Entre seus textos teatrais mais destacados podemos citar: “El Gran Tuleque”, “Las ranas”, “Pensión familiar”, “La valija”, “Los caballos”, “El saco de Antonio”, “… Y nuestros caballos serán blancos”, “El combate del establo”, “El hijo que espera”, sendo que os últimos textos foram escritos dentro do confinamento.

Maurício Rosencof foi um protagonista comprometido, uma testemunha lúcida, um lutador. E estará presente na apresentação de “Los Caballos” no 17º Porto Alegre em Cena.

Sobre “Los Caballos”, ouçamos o diretor, Ernesto Clavijo:

“Reconhecidamente, “Los Cavallos” é a uma peça inevitável no panorama das artes latinoamericanas pela qualidade dramática e pela poética do texto. Se algum dia percebermos com nitidez a essência de nosso ser latinoamericano, creio que encontraríamos, de maneira mais exaltada, o eterno matrimônio entre a realidade e a fantasia, entre os sonhos e o mundo consciente.

A obra de Rosencof é premonitória, o inimigo da classe caiu com os cavalos. Eles são o poder. Um poder de direções distintas e significado único: a todos eles, de maneiras diversas, os permitirá salvarem-se, projetando-se sobre um futuro e um passado real ou inventado, como assim o são os cavalos.

As ilusões – uma das constantes do autor – se verão frustradas. Mas não deixarão os sonhos, esses não serão levados. Por isso é importante reivindicar aqui a importância e a força dos sonhos. Nós, latinoamericanos, somos filhos de um continente poético. A poesia joga um papel central em nossas relações com os seres humanos e as coisas. Fazemos da poesia realidade quando concretizamos um sonho. Ulpino, Lito, Clotilde, Azucena, Barreto sonham em voz alta na obra de Rosencof. Nos contam de sonhos em meio à tragédia de suas vidas, mas contam de uma maneira que o fazem verdadeiros

Ao defender os sonhos, defendemos a poesia e a arte. Naturalmente que todos ouvimos o grito desgarrado de Ulpino, mandando montar a cavalo e empunhar a lança. Nos damos conta da solidão do velho lutador nostálgico. Mas foi sempre assim. Todos chegamos ou chegaremos um dia a sentir também a depressão e a angustia. A insatisfação de um caminho largo a recorrer ao qual temos ou teremos que renunciar.

E isto pode ser interpretado como decepção. Mas não sobre os outros seres humanos, que a sua maneira também lutam, mas uma decepção frente a este destino trágico da temporalidade e da fugacidade da força e da vida.

Em outro plano, estão Segundo, Clotilde e Lito, seu filho. Decidem ficar no arrozal, a pesar da dor e do sofrimento nômade. Eles permanecem, conseguiram trabalho. É emocionante a cena em que Segundo entrega “a ferramenta de trabalho” a Lito, que deixará no caminho uma realidade mais crua, seu sonho à cavalo. Ele se faz homem para começar a caminhar com outro olhar, mas sem deixar de lutar por seus sonhos.”

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Texto: Mauricio Rosencof / Direção: Ernesto Clavijo / Elenco: Lidia Etchemedi, Rossana Ramón, Carlos Scuro, Héctor Spinelli, Manuel Villarino, Emanuel Sobré e Júver Salcedo / Figurino: Gerardo Egea / Cenário: Fernando Scorcela / Iluminação: Juan José Ferragut / Trilha sonora: Carlos García / Produção e Realização: Teatro de La Gaviota / Duração: 1h / Classificação: livre

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