quinta-feira, 10 de junho de 2010

Hilda Hilst – O espírito da coisa

Hilda Hilst (1930-2004) é uma das escritoras brasileiras cuja obra consegue ser quase tão interessante quanto à vida e vice-versa. Filha de um pai esquizofrênico e de uma mãe chamada Bedecilda, estudante de direito, atraiu os olhares de grandes poetas, escritores, alta classe paulista. Em viagem à Europa, fez-se passar por jornalista e cortejou Marlon Brando. Grande poeta e dramaturga mais conhecida no exterior do que no Brasil, o primeiro livro em prosa (Fluxo-Floema, 1970) veio tardiamente. Há quatro anos, ela tinha abdicado de toda a vida social e ido morar na fazenda onde nascera. Lá construiu com o marido, o escultor Dante Casarini, a Casa do Sol, lugar essencial para muitos artistas da safra 60-70-80, entre eles, Caio Fernando Abreu, que chegou a morar com Hilda Hilst. Após ter lançado muitos livros e feito muito sucesso na crítica mundial, em 1990, dá adeus à literatura “séria”. Lança “O caderno rosa de Lori Lamby” que é rechaçada pelos colegas intelectuais. Os livros populares continuam sendo lançado e a autora passa a ser conhecida pelo grande público. Ao longo de cinqüenta anos como escritora que investiga a relação homem e Deus, pode-se dizer, sobre ela, que “conseguiu qualidade excepcional em todos os gêneros literários a que se propôs – poesia, teatro e ficção. “ (Anatol Rosenfeld).

Assim, ficar mais próximo do universo dessa grande artista é o melhor proveito, entre tantos outros, que podemos tirar do espetáculo “Hilda Hilst – O espírito da coisa”.

Com uma direção de Ruy Cortez, que inclui no seu currículo como diretor Dostoievski, Tchekov, Schiller, Brecht, Tennesse Williams, Jean Giraudoux, Plínio Marcos, Chico Buarque, entre muitos outros), o espetáculo teve Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte de Melhor Atriz para Rosaly Papadopol.

Num misto de espetáculo biográfico (bem pouco) e atualização teatral da obra da escritora (muito), a peça está situada num único cenário: plantas, cachorros, livros e maquina de escrever. Destaca-se ainda o trabalho do compositor Edson Tobinaga, que se voltou para a criação das músicas especialmente compostas para o espetáculo, permeando a obra de Hilda Hilst: o ritmo e a dinâmica de sua prosa; o caráter melódico-harmônico de seus versos; sua “ode descontínua”, suas “árias pequenas”, seus “prelúdios intensos”, significativos de um imenso repertório de afetos musicais. A música pretende valorizar o descontínuo, o arioso, o “pré-lúdico” e intenso em Hilda Hilst. Para tanto, farão menção a pelo menos dois compositores com alguma afinidade estética com o universo hilstiano: Erik Satie (1866-1925) e Giacinto Scelsi (1905-88).

São 75 minutos de espetáculo sobre essa tão importante escritora que viveu 74 anos. O espetáculo é o resultado de uma pesquisa de 10 anos em torno de sua vasta obra.

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Ficha Técnica:
Concepção e Atuação: Rosaly Papadopol
Direção: Ruy Cortez
Participação especial: Antonio Abujamra (VOZ em OFF de Apolônio - pai de Hilda Hilst)
Dramaturgia: Gaspar Guimarães
Coordenação de Dramaturgia: José Antônio de Souza
Consultoria Literária: José L. Mora Fuentes
Cenografia: André Cortez
Figurino: Anne Cerrutti
Iluminação: Fábio Retti
Direção Musical: Tunica
Música especialmente composta: Édson Tobinaga
Cenotécnico e Adereçista - Cesar Rezende
Visagismo: Westerley Dornellas
Projeto Gráfico: Dado Motta
Ilustração para material gráfico: Olga Bilenky
Gravação em Vídeo/ Teaser/ Clip: Gustavo Haddad
Pesquisa: Rosaly Papadopol (colaboradores - Gaspar Guimarães e Ruy Cortez)
Assistência de Produção e Logística: Barbara Thire
Direção de Produção: Maria Betania Oliveira
Realização: Samadhi Produções
Apoio Cultural: Instituto Hilda Hilst
Duração: 75 minutos
Classificação: 16 anos

Foto: Divulgação / João Caldas

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