terça-feira, 15 de junho de 2010

Hamelin

Hamelin” foi escrito em 2005 pelo dramaturgo espanhol Juan Mayorga (1965. Prêmio Valle-Inclán, em 2008, por La Paz Perpétua) dando ao seu autor o prêmio Max de Melhor Autor Teatral em Madrid. Conta a história de um jovem juiz que está determinado a provar que um importante membro da sua sociedade abusou sexualmente de uma criança. Ao lutar para reunir provas, O Juiz Monteiro (Vladimir Brichta) descobre o quão difícil é encontrar culpados e distinguir o bem do mal. Com uma atmosfera próxima dos filmes de suspense e através de uma dramaturgia não convencional, o espetáculo, que participará do 17º Porto Alegre em Cena, revela a impotência de uma sociedade em proteger a inocência das suas próprias crianças e a impossibilidade de se chegar a uma única conclusão quando palavras são tudo o que se tem para apurar uma verdade.

Com direção de André Paes Leme, professor do Departamento de Direção Teatral da UNIRIO com Mestrado em Estudo de Teatro pela Universidade de Lisboa, os atores de “Hamelin” assumem, além dos seus personagens, a função de comentar a cena, conduzir e questionar o olhar do público nesse espetáculo em que as rubricas foram escritas para serem ditas. O jogo é nítido e as suas regras são reveladas para o público desde o início. A cena se desenha apoiada firmemente na interpretação dos atores, na dinâmica das suas marcas e na integração dos espectadores.

O espetáculo, que já foi encenado em 11 países do mundo, foge da tradição ilusória, sustentando uma atmosfera próxima dos filmes de suspense. Os atores mantêm, ao longo da narrativa, uma forte carga emocional sem perder, no entanto, o distanciamento necessário para a suscitação de um olhar crítico.

“Através do teatro podemos pensar na vida, na nossa existência individual e também no modo que nos organizamos como sociedade. O teatro não pode substituir a política, cujo objetivo deveria ser a luta concreta contra as injustiças concretas, mas ele pode nos preparar para a vigilância e a resistência contra formas de dominação do homem pelo homem. Eu também sinto o alívio que todos sentem quando a polícia anuncia a prisão de um monstro. Mas, depois, penso na saúde da sociedade que gerou esse monstro, e se eu ajudo de algum modo na extensão dessa doença. Pessoalmente, desconfio de um teatro que consiste em denunciar monstros frente aos quaiso espectador se sente inocente. Eu quero que o espectador saia de “Hamelin” se sentindo mais responsável, e não inocente”, declara Mayorga, que escreveu o espetáculo levando em conta diversos escândalos sobre pedofilia.

“Hamelin” é uma alusão ao conto “O Flautista de Hamelin”, que versa sobre o desaparecimento de todas as crianças de uma pequena cidade após a mesma ser salva de uma praga de ratos por um flautista. Segundo a narrativa, a população se recusa a pagar o músico, que decide então deixar a cidade levando todas as crianças. Para Mayorga, há uma nítida relação entre as duas histórias. “As crianças pagam pelas faltas dos adultos. Eu vejo isso como uma alegoria do que acontece no nosso mundo. As crianças são as primeiras a sofrer com nossas guerras, nossas más políticas, nossa estupidez. Minha obra não é a reconstrução de nenhum caso verdadeiro, entretanto, o que vem acontecendo é que, onde “Hamelin” é montada, o público a associa a algum caso ocorrido no lugar. Infelizmente, o que se representa na peça parece estar acontecendo, com traços muito semelhantes, em todo o mundo.”

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Ficha Técnica:
Texto: Juan Mayorga
Tradução: António Gonçalves e Patrícia Simões
Direção: André Paes Leme

Elenco: Vladimir Brichta, Alexandre Dantas, Alexandre Mello, Claudia Ventura, Oscar Saraiva e Patrícia Simões

Cenografia: Carlos Alberto Nunes
Figurinos: Luciana Maia
Desenho de Luz: Renato Machado
Direção Musical: Lucas Ciavatta
Direção de Produção: Andrea Alves e Claudia Marques
Produção Executiva: Leila Moreno
Coprodução: Sarau Agência de Cultura Brasileira e Fábrica de Eventos
Idealização: Dupla Arte
Duração: 1h30min
Classificação etária: 16 anos.

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