quarta-feira, 9 de junho de 2010

Sissy!

Sissy! faz parte do projeto de doutorado prático de Nando Messias na Central School of Speech and Drama, University of London. Em sua pesquisa, Messias investiga, através da teoria Queer, conceitos de formação corporal de gênero, violência física, abuso verbal e ocupação de espaço urbano. Sissy! procura desenvolver estas idéias em prática no espaço do palco. O foco principal do espetáculo está centrado no conceito de ‘sissiografia’ do corpo, criado por Messias em seu doutorado. Em outras palavras, Sissy! descreve o processo de escrita do conceito ‘sissy’ (o que equivaleria literalmente em português à expressões de abuso como ‘bicha’ ou ‘veado’) no corpo do performer. A escolha do nome ‘sissy’ como título da performance é, portanto, em si, uma tentativa de engajamento com o processo crítico que Foucault denomina ‘reverse discourse’ (discurso invertido).

O processo dramatúrgico de Sissy! se desenvolve a partir de uma série de estratégias cênicas. Entre estas, se encontra o paralelo comparativo que se estabelece entre os corpos dos dois performers em cena. Com o auxílio de figurinos, Biño Sauitzvy, que também assina a direção, representa o lado masculino: o boxeador. Seu corpo é atlético, forte e musculoso. O contraste com a figura do boxeador se estabelece, desde o início, com o uso de elementos comumente percebidos como sendo pertencentes ao vestuário feminino. Estes figurinos são também usados aqui de uma maneira hiperbólica, pois a versão feminina que Nando Messias apresenta no palco não é somente feminina, mas ‘ultra-feminina.’

Também simbólico dentro do discurso desenvolvido durante a performance é a cor rosa. Sissy! Focaliza porém no uso hiperbólico da cor rosa desde o uso da maquiagem (blush cor-de-rosa) no início, até o vestido de fru-fru cor-de-rosa que aparece no final da performance, dentro de uma caixa de presente, também cor-de-rosa, enrolada em uma fita de cetim cor-de-rosa.

Sobre a concepção do espetáculo, diz Sauitzvy:

“A busca de uma estética própria, que nasça da criação pessoal de cada membro de um grupo, sai do caminho da construção do teatro e da dança tradicionais. Nós não par­timos de um texto dramático pré-estabelecido. Nós somos ao mesmo tempo atores, dançarinos e dramaturgos. Nós somos os construtores de uma dramaturgia corporal performática. Os criadores de uma performance que é, ao mesmo tempo, ação e escritura cênica. Nós escrevemos no espaço com nosso corpo, nossa voz. Nós viemos de dife­rentes horizontes e nos reunimos para criar. A dramaturgia aqui é a performance, a ação das sensações, das histórias pessoais, de diferentes modos de existên­cia, da observação da vida externa como um reflexo da vida interna. É o indivíduo fragmentado que nos interessa. Um ser cujo pensamento é ilógico, não narrativo-cientifico, um homem desprovido de um raciocínio “causa e conseqüência”. É o indivíduo que é entre o teatro, a dança, o gesto inaca­bado, o movimento, a imagem, a performance, a musica. Nós buscamos um homem performático, contaminado, híbrido.”


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FICHA TÉCNICA

Diretor do Espetáculo: Biño Sauitzvy

Elenco: Biño Sauitzvy e Nando Messias

Iluminador: Claudia de Bem

Figurinos: Biño Sauitzvy e Nando Messias

Produção: Claudia de Bem e Collectif des Yeux

Duração do espetáculo: 60 min




Classificação: 16 anos

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