terça-feira, 1 de junho de 2010

In on it


In on it” (2000) trata da desconstrução a partir de um olhar construtor. Depois de limpo, o terreno abre-se para a possibilidade de outra construção. Construído o prédio, é permitido pensar na sua reforma. O processo é inquietante porque é humano. O todo construído, nunca pronto e sempre próximo do acabado, mas nunca nele, é também, na dramaturgia de Daniel MacIvor (Canadá, 1962) premiado pelo Obie Award na sua temporada em Nova Iorque, o humano. Os homens constroem homens, discursos, relações. E as desconstroem. Limpam o terreno. Reformam.

No Brasil, o texto ganha a direção de Enrique Diaz, premiado diretor (Mambembe, 1984; Molière, 1991; Shell e Sharp, 1995 e 1996) e fundador da Companhia dos Atores (1990) com interpretação de Emílio de Mello e Fernando Eiras. O espetáculo que estreou em 2009 já colecionou muitas indicações e importantes troféus: Melhor Direção e Melhor Ator (Eiras), no XXII Prêmio Shell de Teatro; e Melhor Espetáculo, Melhor Direção e Melhor Ator (Mello e Eiras) no Prêmio APTR (Associação de Produtores de Teatro do Rio de Janeiro). “In on it”, por isso, é o espetáculo mais premiado da temporada nacional.

Depois de ter dirigido “Ensaio.Hamlet” e “Gaivota – tema para um conto curto”, e ter se apresentado em vários países, a mão de Diaz recai sobre esse texto fragmentado com habilidade e experiência. A narrativa de "In on it" se constrói em espiral abre-se para o público em três níveis bem claros do ponto de vista estética, mas conseqüentes do ponto de vista narrativo. Dois homens escrevem uma peça. Dois homens encenam uma peça. Dois homens vivem uma relação. A peça escrita e a peça encenada falam da relação antes vivida. A relação é ponto de partida para a escrita de um texto teatral e também sua encenação. A apresentação acontece porque antes o texto foi escrito. Só há dois homens em cena e é sobre eles que o espetáculo se constrói. Antigos amantes, atores que amam o teatro e também seu texto. Os diálogos fluem do sutil ao cáustico, do lirismo à simplicidade, da metalinguagem à linguagem. Uma situação vista e revista sob vários pontos de vista. Muda-se o contexto, não o texto: tem-se uma nova perspectiva.

Os laços são o tema desse espetáculo que inaugura a encenação de MacIvor, quase um desconhecido para nós, no Brasil. Seu humor elegante convida para a reflexão, em novos contextos, sobre textos outrora escritos por nós mesmos.


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Ficha Técnica:

Texto: Daniel MacIvor
Tradução: Daniele Ávila
Direção: Enrique Diaz

Elenco:
Emílio de Mello
Fernando Eiras

Iluminação: Maneco Quinderé
Cenografia: Domingos de Alcântara
Figurino: Luciana Cardoso
Trilha sonora: Lucas Marcier
Coreografia: Mabel Tude
Consuloria de movimento: Marcia Rubin
Programação visual: Olívia Ferreira e Pedro Garavaglia
Fotografia: Dalton Valério
Assessoria de Imprensa: Morente Forte Comunicações
Assistente de Direção: Pedro Freire
Direção de Cena: Marcos Lesqueves
Produção: Enrique Diaz




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