Num pequeno mundo imaginante
O
que dizer quando se gosta muito, quando os atores são excelentes e fazem tudo
acontecer em cena. Quando um texto te pega pela mão, coração e ideias. Quando
eu penso que sim, gostaria de ter feito esta peça, poderia com prazer estar
nesta cena, o que mais há para dizer?
Guilherme
Weber e Murilo Hauser fizeram o projeto de encenação de Ah, a humanidade! E outras boas intenções. Murilo dirige, Guilherme
atua com outros 4 atores. O texto do dramaturgo Will Eno, consegue ser atual e
ousado sem abrir mão daquilo que o teatro pede: acontecer. Fazer das palavras e
das circunstâncias, motivações para que palco e plateia vivam juntos alguma
coisa que só acontece neste espaço, neste fluxo.
O
cenário anuncia algo que já houve, uma hecatombe, uma catástrofe, nada está em
seu lugar. Das ruínas surgem as cenas, os atos, os personagens. Falam, falam
muito, querem ser ouvidos. Suas palavras pretendem dar conta do que não mais é
possível. Ser humano e relacionar-se com as coisas e com os outros é tarefa
para fortes.
O
tom de tudo é isso é aquele delicado equilíbrio entre o trágico e o cômico.
Quando rimos de nós e choramos por nós. O que mesmo é ficção? É um carro ou
duas cadeiras? Vivemos num pequeno mundo imaginante. Imaginante? Qualidade de
estar em imaginação?
Mais
uma vez, a iluminação de Beto Bruel (como em Não sobre o amor) entra em cena para mostrar que é possível olhar
as coisas por seu lado claro, mas também pela sombra. Há recortes infinitos de
luz sobre os fatos e sobre as pessoas.
Cada
um terá sua história preferida, entre as cinco que são apresentadas, mas todos
seremos contaminados por este espetáculo que não me parece pré ou pós alguma
coisa. Apenas é, hoje.
E
o final, bom o final...
* Mirna Spritzer é atriz e professora do Departamento de Arte Dramática da UFRGS
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