quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Destaques do Porto Alegre em Cena por Luciano Medina Martins

É bom lembrar dos motivos que nos fazem ir ao teatro. Ver uma boa encenação? É bom! Ver um cenário interessante e funcional que reforça a ideia de tridimensionalidade? É parte de um bom espetáculo. Entrar em contato com textos dramatúrgicos bem escritos? É muito importante. Estes elementos mais, boa luz, movimentação dos atores, construção dos personagens bem feita, trabalho gestual impecável, trilhas sonoras pertinentes acrescidas de uma longa lista de detalhes fazem parte da linguagem teatral bem construída. Tudo isso é relevante e estava presente hoje no Theatro São Pedro na montagem de ESTA CRIANÇA, do diretor Marcio Abreu, com o elenco composto por Renata Sorrah, Giovana Soar, Ranieri Gonzalez e Edson Rocha. Estes maravilhosos atores, e seu diretor, mostraram o que faz querer estar em frente ao palco de um espetáculo tecnicamente perfeito. Explorar nossas memórias, especialmente aquelas que escondemos de nós mesmos. Fazer rir e chorar de nossas lembranças, valores e angústias. Não rimos e choramos do texto bem escrito, da luz, do cenário, da boa atuação, mas sim de como estes elementos tocam naquilo que temos dentro de nós: sentimentos, a recordação de nossas histórias de vida. Uma peça que tem por tema as relações entre pais e seus filhos e filhas, no mínimo parte de um contexto vivido por quase todos, em algum momento de suas vidas ou por quase toda ela, o que é um ótimo ponto de partida para um espetáculo teatral de sucesso, como é o caso de ESTA CRIANÇA. Fazer este bom e recorrente tema realmente trazer a tona, dentro de cada espectador, as tais emoções, pensamentos e lembranças consiste na magia encantadora do teatro, no ilusionismo dramático que nos faz ir a peças teatrais e querer voltar de novo e outra vez ainda. Isto aconteceu muito hoje à noite dentro do Theatro São Pedro com a peça ESTA CRIANÇA. #imperdível
 
Emmanuelle Lafon ontem nos mostrou que estudou muito sobre Clarice Lispector para construir seu personagem, foi quase uma sessão de “incorporação” da memorável escritora brasileira. Emmanuelle e seu olhar inquisitivo e magnético cativou a plateia por mais de uma hora e meia usando de uma interpretação forte, marcada pelos trejeitos da autora e pelo texto autobiográfico que emociona com sua abordagem pessoal, verdadeira e com uma sagaz e, muitas vezes ácida, ironia reveladora das dúvidas de todos seres humanos. Imperdível para fãs da Clarice Lispector, e para os que não a conheciam foi uma introdução ao melhor estilo da autora: contundente.
 
O Teatro Renascença recebeu uma montagem moderna para o texto de Nelson Rodrigues que expôs Nelson Rodrigues como ele é. Sarcástico, cruel, contundente, debochado e vil. Com um tom de conto policial com requintes de jornalismo marrom, O BEIJO NO ASFALTO de Claudio de Lira é uma releitura muito feliz para um dos mais famosos textos da dramaturgia brasileira que expõe, como uma ferida aberta, alguns dos temas recorrentes de nossas produção teatral nacional: relações expúrias entre instituições, especulação sobre a vida das pessoas, falta de ética profissional, abuso de poder, homofobia, promiscuidade e incesto. Projeções de cinema, imagens de TV, trilha sonora moderna, sem falar nos cenários, com toques de arquitetura pernambucana de muito bom gosto que, junto com uma atuação energética, compuseram um lindo espetáculo. 

* Luciano Medina Martins é jornalista

Nenhum comentário: