É bom lembrar dos motivos que nos fazem
ir ao teatro. Ver uma boa encenação? É bom! Ver um cenário interessante
e funcional que reforça a ideia de tridimensionalidade? É parte de um
bom espetáculo. Entrar em contato com textos dramatúrgicos bem escritos?
É muito importante. Estes elementos mais, boa luz, movimentação dos
atores, construção dos personagens bem feita, trabalho gestual
impecável, trilhas sonoras pertinentes acrescidas de uma longa lista de
detalhes fazem parte da linguagem teatral bem construída. Tudo isso é
relevante e estava presente hoje no Theatro São Pedro na montagem de
ESTA CRIANÇA, do diretor Marcio Abreu, com o elenco composto por Renata
Sorrah, Giovana Soar, Ranieri Gonzalez e Edson Rocha. Estes maravilhosos
atores, e seu diretor, mostraram o que faz querer estar em frente ao
palco de um espetáculo tecnicamente perfeito. Explorar nossas memórias,
especialmente aquelas que escondemos de nós mesmos. Fazer rir e chorar
de nossas lembranças, valores e angústias. Não rimos e choramos do texto
bem escrito, da luz, do cenário, da boa atuação, mas sim de como estes
elementos tocam naquilo que temos dentro de nós: sentimentos, a
recordação de nossas histórias de vida. Uma peça que tem por tema as
relações entre pais e seus filhos e filhas, no mínimo parte de um
contexto vivido por quase todos, em algum momento de suas vidas ou por
quase toda ela, o que é um ótimo ponto de partida para um espetáculo
teatral de sucesso, como é o caso de ESTA CRIANÇA. Fazer este bom e
recorrente tema realmente trazer a tona, dentro de cada espectador, as
tais emoções, pensamentos e lembranças consiste na magia encantadora do
teatro, no ilusionismo dramático que nos faz ir a peças teatrais e
querer voltar de novo e outra vez ainda. Isto aconteceu muito hoje à
noite dentro do Theatro São Pedro com a peça ESTA CRIANÇA. #imperdível
Emmanuelle Lafon ontem nos mostrou que
estudou muito sobre Clarice Lispector para construir seu personagem, foi
quase uma sessão de “incorporação” da memorável escritora brasileira.
Emmanuelle e seu olhar inquisitivo e magnético cativou a plateia por
mais de uma hora e meia usando de uma interpretação forte, marcada pelos
trejeitos da autora e pelo texto autobiográfico que emociona com sua
abordagem pessoal, verdadeira e com uma sagaz e, muitas vezes ácida,
ironia reveladora das dúvidas de todos seres humanos. Imperdível para
fãs da Clarice Lispector, e para os que não a conheciam foi uma
introdução ao melhor estilo da autora: contundente.
O Teatro Renascença recebeu uma
montagem moderna para o texto de Nelson Rodrigues que expôs Nelson
Rodrigues como ele é. Sarcástico, cruel, contundente, debochado e vil.
Com um tom de conto policial com requintes de jornalismo marrom, O BEIJO
NO ASFALTO de Claudio de Lira é uma releitura muito feliz para um dos
mais famosos textos da dramaturgia brasileira que expõe, como uma ferida
aberta, alguns dos temas recorrentes de nossas produção teatral
nacional: relações expúrias entre instituições, especulação sobre a vida
das pessoas, falta de ética profissional, abuso de poder, homofobia,
promiscuidade e incesto. Projeções de cinema, imagens de TV, trilha
sonora moderna, sem falar nos cenários, com toques de arquitetura
pernambucana de muito bom gosto que, junto com uma atuação energética, compuseram um lindo espetáculo.
* Luciano Medina Martins é jornalista
* Luciano Medina Martins é jornalista
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