TEATRO DE CÂMARA
TÚLIO PIVA - Rua da República, 575, são aproximadamente 21h30min. Uma longa
fila me espera, o público aguarda tranquilamente a hora de sentar-se frente ao
espetáculo que cuidadosamente escolheu. Discretamente observo-as, pois me chama
a atenção o número de casais, de idades variadas, mas as cabeças grisalhas são
a maioria. Curioso...
Não. Os motivos
pelos quais estamos ali, são distintos.
Eu como
bailarina, e alguns outros mais, fomos para assistir a Focus Cia de Dança.
Criada em 1996, que têm em seu currículo prêmios e aclamadas
apresentações na Alemanha, Panamá e 32 cidades da França do seu espetáculo
As canções que você dançou pra mim eleito pelo jornal O Globo em 2011, como um dos 10
melhores espetáculos da dança.
E
outros tantos para ouvir e sentir a música de Roberto Carlos que marca o
imaginário brasileiro desde a década de 1960 com aquelas jovens tardes de
domingo da Jovem Guarda.
Em cena, quatro casais são embalados por um grande pout-pourri com 72
canções interpretadas por ele, cantor e compositor, carinhosamente reverenciado
como Rei.
Então, não poderia ser diferente.
As portas se abrem. Cena aberta, oito cadeiras dispostas equidistantes.
Uma tênue luz azul.
Toca o terceiro sinal, os corações estão a palpitar, dá pra sentir.
Entram os bailarinos aos sons dos seus sapatos, blackout.
Suspensão...
Luz e...
“Quando eu estou
aqui, eu vivo este momento lindo”.
Sentados, sincronizados e tecnicamente impecáveis fazem um jogo entre o romantismo
do Rei, e movimentos quebrados por vezes contundentes e velozes desta Cia
contemporânea.
Por um instante... Lembrei-me das reuniões dançantes. Aquelas de
garagem. As cadeiras, os tipos, as roupas. Sim há um cuidado. Figurino e cabelos cuidadosamente estruturados.
Da época, sem ser antigo. Corpos esculturais.
Nada é por acaso nem há descaso. Eles às vezes são literais. Por que
não? Às vezes é preciso.
Fazer o que as palavras... O são. Simples.
Sim, há um momento em que as músicas atordoam, pois algumas são apenas
frases, que por vezes parecem (digo parecem) perdidas, E então...
“Eu te proponho nós
nos amarmos, nos entregarmos”.
Onde a coreografia é sustentada por um beijo sem fim. Adoravelmente
incrível. Aos olhos parece tão fácil e ao coração mais ainda. A técnica
apurada, e o aperfeiçoamento físico aparecem em cada momento. São impecáveis e
belos. Sim, belos bailarinos. A dança continua e agora não há mais pra onde ir.
Tudo já foi feito.
Então cantam pra nós.
“Olha você tem todas
as coisas, que um dia eu sonhei pra mim.”
Como o Rei, eles jogam suas rosas ao público, mas de um jeitinho um
pouco diferente.
Vêm a nós. Perguntam sobre amor e paixão. E...
“Ahhh eu vim aqui amor, só pra me despedir e as últimas palavras desse
nosso amor, você vai ter que ouvir”.
Ao retornarem ao palco, fazem um passeio às diferentes fases do Rei.
Brincam, pulam e sorriem.
O fim está próximo, o desafio de usar 72 músicas em um espetáculo com 55
minutos terá êxito. A plateia está emocionada, há choro, risos e amor.
Com um bonito pas de deux (coreografia dançada por um par) o
espetáculo encerra ao som de...
“... não adianta nem
tentar me esquecer, por muito tempo em sua vida eu vou viver...”
Cuidadoso e perspicaz. É o que posso dizer da direção e coreografia de Alex Neoral. Nada de espantoso, nem espetacular. Simples. Sacada
de mestre, compreender e seguir o Rei.
Apenas isso.
“...Se chorei ou se
sorri o importante é que emoções eu vivi...”
Aliás, Porto Alegre em Cena. É isso, emoções. O
Festival comemora 20 anos. Que batalha, que trabalheira, que teimosia, que
vontade de querer fazer, de que a cidade cresça, de que o mundo mude, de
mostrar que tudo é possível.
Cada espetáculo,
cada intervenção, cada contato pode transformar o jeito de olhar, de perceber
ou encarar a vida. Pois se algo em nós muda... Tudo envolta também mudará.
Então... Que venham, mais e mais Porto Alegres em Cena.
* Angela Spiazzi é bailarina da Cia. Terpsí Teatro de dança.
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