O
início marcado por gestos estereotipados dos atores causou um certo
estranhamento que se explicaria instantes mais tarde, quando o discurso dos
atuantes se revelaria sobre a prática da representação. A crítica a este
lugar-comum no palco levou os quarto componentes do grupo paranaense a criarem
interessantes situações cênicas.
Sob a direção de Sueli Araújo, a Cia
Senhas de Teatro trouxe para o público porto-alegrense um espetáculo bem
construído, em que os longos trechos sem texto foram bem sustentados pelas
ações dos atores. As cenas, que pareciam ser resultado direto de improvisações,
levaram o público ao riso e até mesmo a um certo desconforto.
A peça tendia para o lado do circo
dos horrores, com domadoras e seus homens-leões domesticados por chicotes
enquanto se estapeavam em consequência de um desentendimento envolvendo um
laptop e um cigarro. A repetição de algumas situações durante o decorrer do
espetáculo foi dirigida de maneira interessante, comprovando seu êxito pelas
manifestações dos espectadores.
O ritmo cênico de Circo negro
manteve-se surpreendente devido à criatividade que exalava pelo palco.
Entretanto, do meio para o final, após uma cena de caráter mais
dramático – um conto russo -, o grupo teve dificuldades em retomar o tom, e a
peça, infelizmente, sofreu uma forte queda de energia, tonando-se uniforme e
sem grandes surpresas cênicas.
O cenário, assim como os diversos
acessórios cênicos foram bem utilizados, contudo haviam alguns elementos cuja a
única função era de cunho decorativo e que, seguindo a linha de jogo proposta
pelo grupo, poderia ter sido melhor aproveitada. Afinal, se temos um chuveiro
com cortininha em cena, vamos, no mínimo, desfrutar de um bom banho, não?
* Bia Noy é atriz e doutoranda em Letras pela UFRGS
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