quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Circo negro por Bia Noy


O início marcado por gestos estereotipados dos atores causou um certo estranhamento que se explicaria instantes mais tarde, quando o discurso dos atuantes se revelaria sobre a prática da representação. A crítica a este lugar-comum no palco levou os quarto componentes do grupo paranaense a criarem interessantes situações cênicas.
Sob a direção de Sueli Araújo, a Cia Senhas de Teatro trouxe para o público porto-alegrense um espetáculo bem construído, em que os longos trechos sem texto foram bem sustentados pelas ações dos atores. As cenas, que pareciam ser resultado direto de improvisações, levaram o público ao riso e até mesmo a um certo desconforto. 
A peça tendia para o lado do circo dos horrores, com domadoras e seus homens-leões domesticados por chicotes enquanto se estapeavam em consequência de um desentendimento envolvendo um laptop e um cigarro. A repetição de algumas situações durante o decorrer do espetáculo foi dirigida de maneira interessante, comprovando seu êxito pelas manifestações dos espectadores.
O ritmo cênico de Circo negro manteve-se surpreendente devido à criatividade que exalava pelo palco. Entretanto, do meio para o final, após uma cena de caráter mais dramático – um conto russo -, o grupo teve dificuldades em retomar o tom, e a peça, infelizmente, sofreu uma forte queda de energia, tonando-se uniforme e sem grandes surpresas cênicas.
O cenário, assim como os diversos acessórios cênicos foram bem utilizados, contudo haviam alguns elementos cuja a única função era de cunho decorativo e que, seguindo a linha de jogo proposta pelo grupo, poderia ter sido melhor aproveitada. Afinal, se temos um chuveiro com cortininha em cena, vamos, no mínimo, desfrutar de um bom banho, não?
 
* Bia Noy é atriz e doutoranda em Letras pela UFRGS

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