Andromeda Mega Express Orchestra*
Nas prateleiras de ofertas dos sebos de vinil, é fácil encontrar discos de orquestras dos anos 40 e 50, prática que foi caindo em desuso à medida que as possibilidades de amplificação foram se popularizando. Nestes LPs de grupos hoje totalmente esquecidos, não é raro encontrar arranjos muito bem elaborados e que merecem ainda hoje ser ouvidos. Pois bem, no atual contexto, a existência de um grupo como a Andromeda Mega Express Orchestra por si só já agrega interesse. Mas a experiência de ouvi-los ao vivo foi mais do que isso. Fui para o show deliberadamente sem informação nenhuma a respeito da proposta, e várias coisas chamaram positivamente a atenção. Leveza, carisma, concentração, bom humor sem apelar para gracinhas. A coesão do grupo impressiona. Cada músico sabe exatamente o seu papel, e se sente muito à vontade em desempenhá-lo. O equilíbrio instrumental é muito bem resolvido. A equalização dos instrumentos foi de uma elegância impecável. Texturas que conseguem ser leves e densas ao mesmo tempo, onde bastava focar a atenção em um determinado instrumento para distingui-lo do meio da massa sonora. Era clara a impressão de que os músicos se divertiam imensamente com o que estavam tocando. Estranho e familiar, o som da orquestra lançava uma referência para quase em seguida se transformar em outra, e não só musicalmente. O trio guitarra-baixo-bateria às vezes parecia um grupo de rock de vanguarda nova-iorquino dos anos 80, em seguida lembrava uma banda grunge de Seattle, ou mesmo um trio de jazz europeu. Rock progressivo, Charles Mingus, Phillip Glass, free-jazz, temas de seriados, big-band, e até mesmo Spike Jones, surgem e desaparecem no meio de composições capazes de transitar pelos estilos e climas mais contrastantes, sem nunca cair no vale-tudo. E tudo parece divertir os integrantes do grupo, que tocam coisas bem complexas, e o fazem com a maior naturalidade. Impossível depois de um show desses dizer que estilos mais radicais não têm público. A Andromeda Mega Express Orchestra deixou os presentes extasiados, com a sensação de que o show tinha durado 15 minutos, ao invés de um hora e meia, e com a impressão de que poderiam conquistar qualquer plateia. Uma experiência musical de exceção, e que merece uma segunda vinda a Porto Alegre.
* Marcelo Birck é músico
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