Linear intensidade*
Ao toque da campainha, o apagar das luzes, o silêncio. Expectativas que desejam não mais serem expectativas. Portanto, realizações, êxito. A arte do efêmero dedica-se ao entusiasmo, ao brilho no olho, ao jogo, a um acontecimento. O espetáculo uruguayo Ella traz a história de dois homens que não coincidentemente encontram-se numa sauna e travam diálogos e discussões sobre a mulher com a qual possuem um relacionamento. Ao longo da peça vamos descobrindo um pouco mais sobre essa personagem cuja presença é reconhecida e manifestada pelas descrições traçadas pelos amantes. A intensidade supostamente esperada para que o acontecimento teatral se realize não é bem sucedida. Não pude ignorar o fato dos experientes atores por vezes me encantarem com diálogos vivos e enérgicos os quais realmente me seduziram a ponto de me envolver completamente no universo das personagens. Mas estes instantes, eram instantes. Pela falta de resoluções mais criativas ou interessantes, as ações previsíveis se repetiam despropositadamente entediando por diversas vezes. Gesticulações vazias que se prendiam no exagero. Uma trilha sonora que não contribui para as cenas. Ao contrário, perturba. Um texto transposto que me faz perguntar o porquê de escolhas literais e pouco surpreendentes. E o teatral? A zona de risco? Por mais interessante que fosse ouvi-los, suas vozes agradáveis e a língua marcante por sua beleza em si, era desanimador dar-se conta de assistir algo que parecia estar sendo feito sem ardor. Remetia ao confortável e ao esperado. Quando afirmo “ao confortável e ao esperado” me dirijo ao fato dos atores anteciparem os momentos, momentos que acabam passando sem serem propriamente desenvolvidos. Ações que eram apenas esboçadas e que por fim não se concretizavam. Ações que apenas se ensaiavam e não se transformavam de uma coisa a outra criando ou gerando finalizações no mínimo admiráveis. Repetições insatisfatórias. Ações que claramente não possuíam intenções. Linear. Uma ode à não surpresa. No entanto, seria um tanto descortês e insensível não pontuar os momentos felizes que o ator Sergio Pereira sustenta, ilumina e proporciona ao espetáculo. Sua performance é encantadora quando realmente absorto pelo aqui e agora do teatro. Foi o brilho no olho dele que me fez acreditar estar assistindo Teatro. Um ator generoso que se esforça para driblar o óbvio, porém, solitário. A ausência de cumplicidade é desconcertadamente revertida em risadas nervosas que se repetem incansavelmente pelo ator Álvaro Pozzolo. Percebo o desamparo de Sergio Pereira. Enfim, uma dramaturgia descomplicada e desajustada pelos pontos finais de uma direção deveras frágil. Talvez tenha havido um encontro ou encontros, instantes, momentos, mas o acontecimento teatral, aquele, não se sucedeu por lá...
* Aline Castaman é diretora teatral
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