Teatro como “Arte-Irmã”*
“Separai as canções do resto!
Um emblema da música, uma mudança de luz,
Um título, projeções, mostrarão
Que agora é a arte irmã
Que entra em cena. Os atores
Se transformam em cantores. Com outra atitude
Se dirigem ao público, sempre
Personagens das peças, mas agora abertamente
Partilham o conhecimento do autor”.
Bertolt Brecht
O Dramaturgo alemão cunhou a expressão “Arte-Irmã” ao se referir à música como parceira ideal do Teatro.
Os espetáculos do Teatro Oficina sob a batuta de José Celso Martinêz Correa sempre foram marcados pela musicalidade explícita, com a presença de grandes coros que muitas vezes cantam trechos inteiros das peças montadas pelo grupo. Zé Miguel Wisnik compôs e realizou direção musical em diversos espetáculos do Oficina. Celso Sim cantou em muitas dessas montagens.
Isto posto o que não esperar de um show onde Zé Miguel e Celso Sim homenageiam o Teatro Oficina na passagem pelos seus 50 anos de profissionalismo? (senão seriam 58 de existência plena).
Logo na primeira música, sozinho ao piano, Zé Miguel mostra indícios do que veio fazer no Porto Alegre Em Cena, não é uma peça de teatro, não é um show ególatra onde ele mostrará todo seu talento como músico, nem é só mais uma apresentação dele na nossa cidade, o que vimos em um Theatro São Pedro lotado, e que ovacionava cada silêncio proposto pelo artista, foi pura celebração! Quando Celso Sim entrou em cena, na segunda música, exalando emoção, suingue, paixão mesmo por aquilo que estava fazendo, tive a certeza que seria uma tarde/noite inesquecível, inebriante, celebrada! Celebraram Oswald e Mário de Andrade entre outros modernistas, referenciando e reverenciando a montagem de O rei da vela e Mistérios gozosos, Gregório de Mattos, Vinicius de Moraes, Antônio Cícero, mais Artaud, Eurípides, Rimbaud, Verlaine e tantos poetas, dramáticos ou não foram aparecendo durante a apresentação sempre bem ilustrada pelo “professor” Wisnik; aliás, poucas pessoas sabem tanto sobre um assunto (literatura) e falam com tanta desenvoltura, sem afetação e com tamanha humildade. E não era uma aula, nem um sarau poético, era show puro, eles foram naquela ocasião exatamente o que nos cantaram no inicio da apresentação: Menestréis! Acompanhados por uma banda jovem, talentosa ao extremo e com a formação atípica de duas baterias, mais pandeiro (Sergio Reze e Guilerme Kastrup) e dois responsáveis pelas cordas (Marcio Arantes e Swami Jr.), incluindo ai contrabaixos acústicos e amplificados, guitarra e violão de sete cordas além do delicioso piano do Zé e da voz firme e expressiva do Celso! Ao cantarem as quatro músicas feitas para as quatro estações do ano em que o Teatro Oficina foi reaberto celebraram junto com o Uzyna Uzona a força transformadora do tempo, o poder de permanência de um teatro quando se tem o direito a terra, água, fogo e ar.
Zé & Celso vieram pra desmitificar e derrubar o muro entre a canção feita para teatro e a canção feita pra show e de arrasto levaram nessa avalanche preconceitos, maneirismos e formas ditas corretas, cantaram samba, tango, música erudita e rap tudo harmonizado; agradeceram a anjos e demônios do Em Cena e de quebra fizeram todo um São Pedro, toda uma Porto Alegre entoar em tom de mantra/pedido que nos dessem “...Senhor a Poesia de Cada Dia...”
E assim como chegaram se foram, com aquela permanente efemeridade, que acaba só na esfera palpável real, mas que como toda obra de arte, como todo espetáculo do Oficina, seguirá soando nos privilegiados ouvidos que puderam junto com eles, junto comigo, junto com o festival e junto com uma cidade CELEBRAR!
Evoé Porto Alegre Em Cena!
lÓ Zé & Celso!
Imortalidade ao Teatro Oficina Uzyna Uzona!
O B R I G A D O!
* Plínio Marcos Rodrigues, Ator e Fã.
Um comentário:
Saí encantado e emocionado do show do Zé e do Celso! Evoé Uzyno Uzona, Teatro Oficina e Zé Celso Martinez Corrêa!!!
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