Cordel do amor sem fim*
O espetáculo Cordel do amor sem fim tem várias daquelas qualidades que costumamos associar ao trabalho de grupo (neste caso O Poste: Soluções Luminosas): o engajamento da equipe, visível especialmente no trabalho dos atores, o que chamamos por aqui de “garra”; e o cuidado, detalhamento até, da cenografia, minuciosa. É um espetáculo sincero em suas intenções, isso é inegável. Percebe-se isso assistindo à peça e até mesmo em entrevista com o grupo (que assisti na TV).
O resultado das qualidades acima enumeradas é, por outro lado, um pouco irregular. Conheço a peça onde o espetáculo se baseou (foi publicada no volume que reúne as peças premiadas no Concurso de Dramaturgia da Funarte 2003, onde recebeu o 3º lugar da Região Nordeste), e a leitura permite avaliar com clareza qual é a história a ser contada. Neste caso, as três irmãs, Teresa, Carminha e Madalena, vivem sozinhas em uma casa, sendo que a primeira delas tem como pretendente José. A complicação acontece quando Teresa se apaixona por Antônio (que nunca aparece, é apenas mencionado) e decide romper o compromisso com José, esperando pelo retorno daquele pelo qual se encantou à primeira vista. A maior parte da peça acompanha a espera por Antônio, até a trágica resolução final, quando José, em um encontro promovido pelo acaso, mata o amor de Teresa com uma faca, ele que voltara finalmente, após anos de espera, para levar a prometida.
O que em minha opinião não funciona no espetáculo é o caráter caricatural que a encenação dá a essa história. O exagero das interpretações, estilizadas e gritadas sem motivo aparente, me afastou. Há uma busca pelo humor nas interpretações, não sempre, é verdade, mas em intensidade suficiente para provocar incômodo. Da mesma forma, o ralentar desnecessário das cenas, esticando ao máximo os tendões dramáticos, não contribui para o encantamento. Pausas deslocadas, buscando o lirismo que talvez brotasse muito mais da simplicidade do que do “barroquismo” fazem o pensamento dispersar. Da mesma forma, a frequente e excessiva sonorização do espetáculo (com intervenções musicais e de ruídos pontuando movimentos e falas, executadas por um músico, visível aos espectadores, mas também pelos atores, quando não estão em cena) saturou um pouco. Silêncio, quase não havia – e a fala não é aquilo que explode entre dois silêncios? Quando tudo explode, nada explode – mas implode a cena.
* Marcelo Adams é ator e diretor teatral, fundador da Cia. de Teatro ao Quadrado. Dramaturgo e professor do curso de Teatro: Licenciatura da UERGS
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