Um espetáculo sensível e equilibrado
A peça alia o conteúdo intimista e amoroso da
correspondência de Drummond e de sua filha Maria Julieta a uma cenografia que
tem funcionalidade. A atriz Sura Berditchevsky narra, com muita expressividade,
cronologicamente, o desenvolvimento de correspondência de ambos. Sura
movimenta-se com naturalidade e desenvoltura no cenário bege com seu traje
negro atemporal e os elementos dos cenários vão se transmutando em arquivos,
mesas, bancos, cadeiras e berços assim como diversas placas na parede são
suporte para projeção de vídeos, imagens fotográficas, documentos, e belos
desenhos e pinturas com texturas e padrões de design de superfície criadas e/ou
relacionadas à Maria Julieta. Esses elementos contribuem para transmitir o
clima afetivo entre ambos, o contexto político e social do Brasil e do mundo e
o tempo que se escoa.
O espetáculo torna-se mais dinâmico e rico porque Sura vai nos revelando objetos, livros, brinquedos e lembranças que
estavam adormecidos, escondidos, nos elementos cenográficos e que oportunamente
têm relação com o texto.
O texto, que inicia com a ingenuidade e a delicadeza das
cartas de Maria Julieta menina vão dando lugar a uma relação mais madura e
cúmplice com seu pai à medida que ela fica adulta. A trilha sonora muito bem
escolhida colabora para nos dar a sensação de passagem do tempo. Um sentimento
de melancolia, de saudade e tristeza, se insinua no final da peça pois o amor
paterno não resistiu à perda da filha. Mas este sentimento não carrega
saudosismo, nem melodrama, pois a Sura diretora e atriz e toda a sua equipe,
conseguiram emocionar a plateia e realizar um bem equilibrado espetáculo de
forma contemporânea.
*Zoravia Bettiol é artista plástica
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