terça-feira, 25 de setembro de 2012

Cartas de Maria Julieta e Carlos Drummond de Andrade por Zoravia Bettiol


Um espetáculo sensível e equilibrado
A peça alia o conteúdo intimista e amoroso da correspondência de Drummond e de sua filha Maria Julieta a uma cenografia que tem funcionalidade. A atriz Sura Berditchevsky narra, com muita expressividade, cronologicamente, o desenvolvimento de correspondência de ambos. Sura movimenta-se com naturalidade e desenvoltura no cenário bege com seu traje negro atemporal e os elementos dos cenários vão se transmutando em arquivos, mesas, bancos, cadeiras e berços assim como diversas placas na parede são suporte para projeção de vídeos, imagens fotográficas, documentos, e belos desenhos e pinturas com texturas e padrões de design de superfície criadas e/ou relacionadas à Maria Julieta. Esses elementos contribuem para transmitir o clima afetivo entre ambos, o contexto político e social do Brasil e do mundo e o tempo que se escoa.
O espetáculo torna-se mais dinâmico e rico porque Sura vai nos revelando objetos, livros, brinquedos e lembranças que estavam adormecidos, escondidos, nos elementos cenográficos e que oportunamente têm relação com o texto.
O texto, que inicia com a ingenuidade e a delicadeza das cartas de Maria Julieta menina vão dando lugar a uma relação mais madura e cúmplice com seu pai à medida que ela fica adulta. A trilha sonora muito bem escolhida colabora para nos dar a sensação de passagem do tempo. Um sentimento de melancolia, de saudade e tristeza, se insinua no final da peça pois o amor paterno não resistiu à perda da filha. Mas este sentimento não carrega saudosismo, nem melodrama, pois a Sura diretora e atriz e toda a sua equipe, conseguiram emocionar a plateia e realizar um bem equilibrado espetáculo de forma contemporânea.
*Zoravia Bettiol é artista plástica

Nenhum comentário: