Todo o ano, no dia 19 de março, San Juan de Capistrano, uma cidade pequena do estado da Califórnia, Estados Unidos, comemora o St. Joseph's Day. Nesse dia, uma grande missa é celebrada na praça central da cidade dando boas vindas às andorinhas migratórias vindas da América do Sul. Essas andorinhas partem dos países do Mercosul e chegam a percorrer 12 mil quilômetros em uma velocidade média de 60km/h atrás de calor e alimentos. Um grande e incrível voo representando a busca pela sobrevivência.
É esse voo que Pablo (Walter Reyno) quer dar, mas já não consegue. Vuelo a Capistrano é um espetáculo uruguaio dirigido pela sempre bem vinda diretora e atriz Patricia Yani, sendo uma obra essenciamente naturalista em sua concepção e estilo interpretativo. O texto é um melodrama do argentino Carlos Gorostiza, e se passa todo no intervalo de uma tarde, em um único ambiente. Um pintor de idade avançada não consegue, há alguns meses, dar prosseguimento à sua obra ao saber que possui uma doença terminal. Em um diálogo profundo sobre o existencialismo humano, a resistência ao envelhecimento e a espera pela morte, o pintor tenta encontrar meios de prosseguir sua vida sem que essa informação influencie o mínimo seu cotidiano e o das pessoas que o cercam.
(Detalhe: Carlo Gorostiza tem 92 anos e devido à idade avançada e suas condições de saúde, ainda não pôde ver sua obra encenada, que muitos dizem ser autobiográfica).
Se for possível traçar um paralelo a respeito da dramaturgia, a obra do escritor argentino lembra os livros do português José Saramago, em especial Intermitências da morte, onde o tema da finitude é extremamente explorado. Como lidar com a notícia de que a morte está por vir e já não há mais nada a fazer? Como prosseguir a vida, dia após dia, sem transformar o tempo em um longo martírio?
Pablo (Walter Reyno) já não tem mais forças para prosseguir. Agoniza. E o gorjeio das pombas que rodeiam sua casa representam o grito desesperado de sua sensação de mediocridade. Sua agonia é interrompida por sua mulher atual, Emilia (María Filippi), que se esforça em valorizar o trabalho do artista e mantê-lo resistente e forte ao enfrentar seu destino, e sua ex-mulher (Maribel García), com qual teve uma filha, a qual já não vê o pai há mais de seis meses. A trama parece ter um único final trágico quando então surge uma andorinha, machucada, ainda com vida, que reacende a chama criativa do pintor e que o faz retomar sua essência vital: a arte.
A equipe do espetáculo é velha conhecida do Em cena. A encenação é objetiva e eficiente, sem rodeios, justamente como a personalidade da diretora Patricia Yani. Cenário, iluminação, figurino, todos os elementos cênicos estão a serviço de uma estética que visa reforçar a sensação de realidade absoluta. Quanto às atuações, impecáveis: Walter Reyno explora ao máximo o texto e seus desdobramentos, com um contundente trabalho vocal. María Filippi e Maribel Garcia completam o elenco com firmeza e elegância, como as atrizes uruguaias cansam de desfilar nos palcos.
Vuelo a Capistrano é uma bonita homenagem a todos os artistas que mantêm vivo o sonho de expressar suas angústias e percepções através de suas vocações e talentos, custe o que custar, sobrepassando por tudo e todos, mesmo que a vida possa estar a um fio, à beira do seu fim. É um trabalho dedicado para quem é, definitivamente, movido pela arte.
É esse voo que Pablo (Walter Reyno) quer dar, mas já não consegue. Vuelo a Capistrano é um espetáculo uruguaio dirigido pela sempre bem vinda diretora e atriz Patricia Yani, sendo uma obra essenciamente naturalista em sua concepção e estilo interpretativo. O texto é um melodrama do argentino Carlos Gorostiza, e se passa todo no intervalo de uma tarde, em um único ambiente. Um pintor de idade avançada não consegue, há alguns meses, dar prosseguimento à sua obra ao saber que possui uma doença terminal. Em um diálogo profundo sobre o existencialismo humano, a resistência ao envelhecimento e a espera pela morte, o pintor tenta encontrar meios de prosseguir sua vida sem que essa informação influencie o mínimo seu cotidiano e o das pessoas que o cercam.
(Detalhe: Carlo Gorostiza tem 92 anos e devido à idade avançada e suas condições de saúde, ainda não pôde ver sua obra encenada, que muitos dizem ser autobiográfica).
Se for possível traçar um paralelo a respeito da dramaturgia, a obra do escritor argentino lembra os livros do português José Saramago, em especial Intermitências da morte, onde o tema da finitude é extremamente explorado. Como lidar com a notícia de que a morte está por vir e já não há mais nada a fazer? Como prosseguir a vida, dia após dia, sem transformar o tempo em um longo martírio?
Pablo (Walter Reyno) já não tem mais forças para prosseguir. Agoniza. E o gorjeio das pombas que rodeiam sua casa representam o grito desesperado de sua sensação de mediocridade. Sua agonia é interrompida por sua mulher atual, Emilia (María Filippi), que se esforça em valorizar o trabalho do artista e mantê-lo resistente e forte ao enfrentar seu destino, e sua ex-mulher (Maribel García), com qual teve uma filha, a qual já não vê o pai há mais de seis meses. A trama parece ter um único final trágico quando então surge uma andorinha, machucada, ainda com vida, que reacende a chama criativa do pintor e que o faz retomar sua essência vital: a arte.
A equipe do espetáculo é velha conhecida do Em cena. A encenação é objetiva e eficiente, sem rodeios, justamente como a personalidade da diretora Patricia Yani. Cenário, iluminação, figurino, todos os elementos cênicos estão a serviço de uma estética que visa reforçar a sensação de realidade absoluta. Quanto às atuações, impecáveis: Walter Reyno explora ao máximo o texto e seus desdobramentos, com um contundente trabalho vocal. María Filippi e Maribel Garcia completam o elenco com firmeza e elegância, como as atrizes uruguaias cansam de desfilar nos palcos.
Vuelo a Capistrano é uma bonita homenagem a todos os artistas que mantêm vivo o sonho de expressar suas angústias e percepções através de suas vocações e talentos, custe o que custar, sobrepassando por tudo e todos, mesmo que a vida possa estar a um fio, à beira do seu fim. É um trabalho dedicado para quem é, definitivamente, movido pela arte.
* Gustavo Susin é ator e jornalista
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