quinta-feira, 13 de setembro de 2012

El lugar por Gustavo Saul


Um local. Sem tempo e espaço definido. Um local que poderia ser um quarto de motel, uma pensão, um abismo. Sanidade e insanidade. Personagens estranhos e semelhantes ao mesmo tempo. Uma narrativa frenética e ao mesmo tempo truncada, descrevendo a impossibilidade de comunicação nos dias de hoje. Caos e trevas.
El lugar, de autoria do dramaturgo Carlos Gorostiza, situa-se em um espaço claustrofóbico onde sete personagens chegam discretamente com suas malas. Não há referência nenhuma de onde essas pessoas vieram e nem maiores informação do porque estão ali. Os diálogos iniciam-se como em qualquer ocasião quando seres humanos estranhos se conhecem: frivolidades, estranhamento e curiosidade. Aos pouco, à medida em que a intimidade vai aumentando, surgem indícios de que algo não vai bem: um comportamento sociopata de um deles denota todas as fragilidades do restante, tecendo todas as feridas que o animal humano costuma esconder sob situações de controle. Ritmo ágil, interpretações eficientes, piadas engraçadas (ou mórbidas). 
O espetáculo, representante do Uruguai, propõe reflexões atuais sobre a bestialidade do homem moderno, metódico e que, ao mesmo tempo, não aceita a contrariedade de opiniões. Texto ácido com referências explícitas ao teatro do absurdo. Porém a narrativa apresenta alguns pontos que deixam bastante a desejar: a obviedade de algumas situações (os momentos onde o rapaz “alternativo” procura apaziguar a insanidade instalada através de canções soa deveras como clichê e piegas) e a sucessão de mortes inexplicáveis (ok, a narrativa é non-sense, mas mesmo assim é necessário alguns indícios para tal fim, senão são apenas situações soltas e sem razão ou justificativa), comprometem o argumento proposto por Goroztiza.
As atuações, como referidas acima, são eficientes. Mas o destaque é sem sombra de dúvida a atuação dúbia e complexa de Fernando Amaral, que desdobra-se ali entre o frívolo e atencioso “mestre-de-cerimônias” e o sociopata que o habita, brotando gradualmente até atingir o ápice verborrágico e primata. 

*Gustavo Saul é ator, produtor teatral, jornalista e colunista de teatro do site O Café

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