segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Ido Tadmor por Guilherme Nervo


Mais jogo, menos técnica
Só o fato de ter visto o trabalho corporal do bailarino Ido Tadmor no Instituto Goethe, já fez valer a pena minha ida ao teatro. Bastaram dez minutos para eu ter a certeza de que era ali que eu deveria estar naquela noite. Mas o meu caso não é o caso de toda a plateia, eu estudo teatro e desenvolvo uma pesquisa com enfoque no corpo do ator-bailarino. Então qualquer trabalho corporal com profundidade de técnica é do meu interesse profissional e pessoal. Uma plateia também é composta por não estudantes de teatro, por pessoas que vão ao teatro para se divertir, para mudar o ponto de vista, para ser provocada ou mesmo para relaxar. 
As quatro coreografias exibidas com intervalos de tempo que fazem parte do espetáculo de dança de Israel, dificilmente causaram uma atmosfera de concentração para o público que não está acostumado a estudar expressão corporal. Acredito que a única coreografia que quebra essa condição seja a The empty room, de 26 minutos. Diferente das outras, existe o jogo entre dois bailarinos, Ido Tadmor e Shany Katzman, um casal que veste roupas similares aos bufões e que está discutindo sobre algo muito específico, sentados e gesticulando os braços sobre uma mesa. De repente eles começam a discutir sobre a relação, o que é uma hipótese minha, porque eles se utilizam de uma língua inventada, uma forma de grammelot extremamente sonoro e convincente, nos causando a sensação de que é uma língua oficial que desconhecemos. O momento de quebra é maravilhoso, entra em cena uma música dos Barbatuques, grupo brasileiro de percussão corporal. A coreografia se utilizou da música Andando pela África, do álbum O corpo do som. A sintonia entre as imagens propostas pelo movimento do corpo e pela música com fortes batidas é de alta qualidade, assim como a iluminação, na qual a cor vermelha é predominante. The empty room ultrapassa a técnica, revela um casal com medo de se relacionar e alcança uma atmosfera de poesia. O casal sai de cena lentamente, tremendo. 
As duas coreografias que reduzem a magia do espetáculo ao nível da pura exibição técnica do bailarino são Moonlight sonata e And Mr. Certamente elas possuem uma carga imagética que faz o expectador entrar numa viagem própria e única, às vezes rica e com propósito, às vezes não. Eu, por exemplo, vi a evolução do homem desde sua constituição mais primitiva. Entretanto não é um trabalho simples, achei mais conveniente e acessível visualizar elementos técnicos, como a abertura de perna que o bailarino apresenta, sua capacidade de tornar o corpo leve ou pesado dependendo do objetivo, sua dilatação ou redução da noção do tempo, seus equilíbrios e desequilíbrios, a qualidade e constante mutação das suas energias, entre outras coisas. A última coreografia chama-se Netta e foi dedicada à mãe do bailarino; a iluminação azul, que sugere um ambiente frio e escuro, contrapõe um corpo saudosista e caloroso, que carrega nas mãos uma xícara. A música tem um papel importante, é capaz de causar comoção e identificação por parte do público. Concluo que se o espetáculo de dança se utilizasse mais do jogo do que da exibição técnica, instigaria e levaria mais brilho à plateia.
*Guilherme Nervo é graduando no Departamento de Arte Dramática da UFRGS

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