sábado, 22 de setembro de 2012

Heróis- o caminho do vento por Luís Carlos Pretto


Para mim, um herói, ao contrário dos da mitologia grega que inspiraram os dos desenhos animados, quadrinhos e filmes, é bem próximo de nós.
Heróis são os bombeiros, os enfermeiros, os policiais, os médicos e todos aqueles anônimos cuja única força "sobre-humana" é o amor e a dedicação a vida.
Heróis é um espetáculo de teatro cujo o poder felizmente não é a invisibilidade, pois a curadoria do POA EM CENA os trouxe até nós.
Enfrentaram vários "oponentes" mais famosos, mais festejados, mais badalados, para nos mostrar que a arte do teatro está no simples, no exercício da encenação, da interpretação, do bom texto e não somente nas pirotecnias que cada vez invade mais o tablado.
Heróis- o caminho do vento é um belo exemplo de um bom teatro que aposta na simplicidade para contar a história de três velhos veteranos de guerra que se encontram todos os dias durante uma hora no terraço do asilo para contarem suas histórias e no final, planejarem algo ousado para aqueles homens, acomodados, ranzinzas e debilitados.
O texto é ótimo, do francês Gerald Sibleyras (primeira montagem no Brasil) que perfeitamente conduzido pelo trio de atores nos faz rir, refletir e comover.
Fazia tempo que eu não ria tanto com um texto que não é uma comédia (eu pelo menos não vi assim), e os atores que interpretam os velhinhos: Renê, Gustavo e Fernando o fazem magistralmente completando-se apesar das diferenças e criando uma grande empatia com o público.
A direção de Guilherme Reis fica como o juiz de uma partida boa de futebol, conduz o espetáculo sem parar e sem querer aparecer, deixando o campo livre para quem quer jogar e joga.
A cenografia é composta por três cadeiras e um cachorro (de pedra?) que torna-se o quarto elemento em alguns momentos. Temos também ao fundo um painel onde são penduradas as lembranças dos ex-combatentes e de onde eles buscam elementos cênicos e guardam/pegam figurinos.
A trilha resume-se na maioria das vezes a barulho de vento e som de caixinha de música com diversos temas, incluindo, o hino francês e nos momentos de transição de cena.
É o simples sendo muito mais que simples. São heróis discretos salvando vidas e fazendo bem a sua função, diferentemente dos astros que no mesmo dia desfilavam com seus figurinos de cores berrantes, aparecendo em outdoors e fazendo estardalhaço na sua chegada nos palcos do Em Cena.
A arte do ator e um bom texto ainda é o que mais me conquista e assim sempre vai ser...
 
*Luís Carlos Pretto é ator e diretor teatral

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