Molly Bloom é o último
capítulo do aclamado romance Ulisses, do escritor irlandês James Joyce, que ganha vida na voz de
Cristina Banegas. A premiada atriz portenha celebra seus 45 anos de teatro com
o desafio de contar uma história que se passa no plano da mente, no fluxo do
pensamento de uma mulher em uma noite de insônia. Molly Bloom é
a nudez da mente feminina exposta ao espectador vouyer. Esta mulher -
uma avessa a Penélope da Odisseia de Homero (obra que inspira Joyce)
- está em sua cama ao lado do marido
Leopold Boom, que dorme enquanto ela é arrebatada por sua própria consciência.
A
encenação é composta apenas pela atriz frente a um pedestal de partitura.
Utilizando essencialmente a voz, por uma hora Cristina nos leva ao quarto de
Molly. Em sua cama, ela simplesmente flui com uma sinceridade arrebatadora. Sem
pudor ela fala sobre suas fantasias, desejos, traições, amores e teorias sobre
os homens. O monólogo é uma transcrição do pensamento, então ele jorra ritmos e
texturas musicas. É como uma partitura, uma música cantada por uma atriz plena em sua arte de contar
histórias.
Já
foi dito que todo ato de comunicação é um ato de tradução. Traduzir Joyce para
o teatro é um projeto antigo e pessoal da atriz, que 12 anos depois de tentar
montar o texto pela primeira vez, vê a obra tornar-se domínio público, obtendo
enfim os direitos da montagem. Mas traduzir Molly Bloom ao português,
também não é uma tarefa fácil. A velocidade do texto e a riqueza do trabalho
podem fazer com que o espectador deseje que espetáculo tenha legenda. Por ser
praticamente uma leitura dramática, a assimilação e apreciação do espetáculo
está totalmente dependente da compreensão da língua espanhola.
A
direção é de Carmen Baliero, musicista com longo trabalho de composição para o
teatro. Seu trabalho é nitidamente
percebido pelo cuidado com a palavra que se transforma em música. A leitura
parece um concerto em que a atriz brinca com as nuances de sua voz e de sua
emoção, enquanto o público observa excitado uma mulher despir-se de toda a
sociedade.
Molly
Bloom é uma celebração da palavra, da mente, da intimidade,
e acima de tudo, do feminino.
*Marcelo Mertins é ator
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