Mais um fruto
dessa intensa integração cultural entre o RS e os países do Prata resulta no
belo espetáculo infantil que poderia se chamar Queremos uma ciclovia &
Outras historias divertidas pois não se restringe a abordar apenas esse
assunto, que é da hora. As apresentações durante o Porto Alegre em Cena foram a
estreia do show,lançamento do CD infantil contendo 14 músicas e um rico material
gráfico que inclui cartões com desenhos, jogos e origamis que ajudam a
transportar o ouvinte para o universo das canções.
Queyi (pronuncia-se quei-i, ou como dizem os uruguaios: que-ji) é
pianista e cantautora espanhola radicada em Montevideo, e preserva um lado criativo, imaginativo e
inquieto de criança, encontrando em Ana Prada a parceria de uma "moleca" que
cresceu no interior do Uruguai, subindo em árvores, andando a cavalo e jogando
futebol com os meninos. Evocando suas crianças interiores, as duas criaram (com
a colaboração de outras duas amigas) essas canções divertidas para clamar por
uma ciclovia, mas também para falar sobre muitos outros assuntos. E as duas encontraram
no gaúcho Marcelo Corsetti a parceria necessária para tornar o projeto uma
realidade.
Os temas das
letras são os mais diversos: medo de dormir sozinho, não gostar de comer verduras,
não querer tomar banho ou, ainda, o incrível caso de amor envolvendo um
golfinho, uma flor, um cactus, um gato tricolor e um pardal – e de como todos
eles foram parar dentro de uma banheira. E dessa canção se pode tirar a síntese
do espetáculo na frase "...que nunca ninguém te diga a melhor maneira de
amar". Algo assim entre lúdico, divertido e ecológico, com pitadas de nonsense. São canções de harmonias
simples, melodias gostosas e fáceis de aprender, com arranjos divertidos e
extremamente bem executados pelos excelentes músicos Luke Faro
(Bateria), Gustavo Ferreira (baixo), e Giovani Barbieri (teclado), mais a
participação de Angelo Primon (sitar), todos capitaneados pelo Marcelo
Corsetti, que além da guitarra tocou também o Ukelele e se saiu muito bem atuando e dando textos – o que, suponho, tenha
grande mérito na direção cênica de Lucia Bendati.
Na linha de
frente, completando o time e cantando ao lado de Ana e Queyi, a porto-alegrense
Vanessa Longoni esbanja simpatia, fazendo a ponte de comunicação com o público.
E as três muito afinadas, cantando juntas em espanhol e português, de forma
muito natural e tranquila, acostumando o ouvido dos pequenos a esse idioma
híbrido falado por aqui.
Os figurinos
multicoloridos criados pelo Cláudio Benevenga ajudam a manter a cena atraente e
divertida, juntamente com o cenário de rodas de bicicletas suspensas, que vez
ou outra giram refletindo sombras ao fundo, compondo a cena com os desenhos de
Queyi projetados no telão.
Ao término do
espetáculo, para me cercar de opiniões avalizadas, consultei dois outros
críticos especializados e implacáveis. Layla (6), que acompanhou as músicas
batendo palmas no ritmo, quando perguntada sobre o que ela mais gostou, não
vacilou na resposta: - TUDO! Comprou o cd na saída e levou mais dois para dar
de presente para os amigos. Já o Henrique (9), mostrou-se um pouco frustrado
por não ter conseguido entender direito as letras das músicas. Realmente as
vozes estavam um pouco “enterradas” entre os instrumentos, e mesmo em português
a compreensão esteve um pouco difícil. Detalhes de estreia, que certamente
devem ter sido resolvidos já no segundo dia.
Ao final, a
sensação de prazer pelo trabalho sensível, estimulante, divertido e bem cuidado
nos detalhes. Um convite à imaginação e à consciência de que a vida pode e deve
ser prazerosa e divertida, e "...que nunca, nunca, ninguém te diga a
melhor maneira de amar".
* Marcelo Delacroix é músico
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