segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Queremos uma ciclovia/Queremos un carril bici por Marcelo Delacroix


Mais um fruto dessa intensa integração cultural entre o RS e os países do Prata resulta no belo espetáculo infantil que poderia se chamar Queremos uma ciclovia & Outras historias divertidas pois não se restringe a abordar apenas esse assunto, que é da hora. As apresentações durante o Porto Alegre em Cena foram a estreia do show,lançamento do CD infantil contendo 14 músicas e um rico material gráfico que inclui cartões com desenhos, jogos e origamis que ajudam a transportar o ouvinte para o universo das canções.
Queyi (pronuncia-se quei-i, ou como dizem os uruguaios: que-ji) é pianista e cantautora espanhola radicada em Montevideo, e preserva um lado criativo, imaginativo e inquieto de criança, encontrando em Ana Prada a parceria de uma "moleca" que cresceu no interior do Uruguai, subindo em árvores, andando a cavalo e jogando futebol com os meninos. Evocando suas crianças interiores, as duas criaram (com a colaboração de outras duas amigas) essas canções divertidas para clamar por uma ciclovia, mas também para falar sobre muitos outros assuntos. E as duas encontraram no gaúcho Marcelo Corsetti a parceria necessária para tornar o projeto uma realidade.
Os temas das letras são os mais diversos: medo de dormir sozinho, não gostar de comer verduras, não querer tomar banho ou, ainda, o incrível caso de amor envolvendo um golfinho, uma flor, um cactus, um gato tricolor e um pardal – e de como todos eles foram parar dentro de uma banheira. E dessa canção se pode tirar a síntese do espetáculo na frase "...que nunca ninguém te diga a melhor maneira de amar". Algo assim entre lúdico, divertido e ecológico, com pitadas de nonsense. São canções de harmonias simples, melodias gostosas e fáceis de aprender, com arranjos divertidos e extremamente bem executados pelos excelentes músicos Luke Faro (Bateria), Gustavo Ferreira (baixo), e Giovani Barbieri (teclado), mais a participação de Angelo Primon (sitar), todos capitaneados pelo Marcelo Corsetti, que além da guitarra tocou também o Ukelele e se saiu muito bem atuando e dando textos – o que, suponho, tenha grande mérito na direção cênica de Lucia Bendati.
Na linha de frente, completando o time e cantando ao lado de Ana e Queyi, a porto-alegrense Vanessa Longoni esbanja simpatia, fazendo a ponte de comunicação com o público. E as três muito afinadas, cantando juntas em espanhol e português, de forma muito natural e tranquila, acostumando o ouvido dos pequenos a esse idioma híbrido falado por aqui.
Os figurinos multicoloridos criados pelo Cláudio Benevenga ajudam a manter a cena atraente e divertida, juntamente com o cenário de rodas de bicicletas suspensas, que vez ou outra giram refletindo sombras ao fundo, compondo a cena com os desenhos de Queyi projetados no telão.
Ao término do espetáculo, para me cercar de opiniões avalizadas, consultei dois outros críticos especializados e implacáveis. Layla (6), que acompanhou as músicas batendo palmas no ritmo, quando perguntada sobre o que ela mais gostou, não vacilou na resposta: - TUDO! Comprou o cd na saída e levou mais dois para dar de presente para os amigos. Já o Henrique (9), mostrou-se um pouco frustrado por não ter conseguido entender direito as letras das músicas. Realmente as vozes estavam um pouco “enterradas” entre os instrumentos, e mesmo em português a compreensão esteve um pouco difícil. Detalhes de estreia, que certamente devem ter sido resolvidos já no segundo dia.
Ao final, a sensação de prazer pelo trabalho sensível, estimulante, divertido e bem cuidado nos detalhes. Um convite à imaginação e à consciência de que a vida pode e deve ser prazerosa e divertida, e "...que nunca, nunca, ninguém te diga a melhor maneira de amar". 

* Marcelo Delacroix é músico

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