sábado, 15 de setembro de 2012

Ido Tadmor por Silvia Wolff



Solidão, limite, extremo, envelhecimento, são temas que permeiam o trabalho de Ido Tadmor, premiado bailarino israelense que traz um trabalho consistente, atual e universal ao 19º Porto Alegre em Cena. Tadmor é um artista contemporâneo por natureza. Um bailarino que cria, pesquisa e interpreta suas obras expondo suas questões  através de gestos limpos, inusitados e extremamente plásticos. Seu espetáculo é composto por quatro trabalhos distintos, entretanto conectados. Aos poucos, vamos entrando no seu  universo e, aficcionados, ficando cada vez mais curiosos para entender seus motivos. Mesmo que seu trabalho, carregado de marcas e significados, não necessite explicação. Tratando de temas extremamente comuns a todo ser humano, esta obra aberta como um todo apresenta uma série de imagens criativas e inusitadas que permitem a cada espectador diferentes possibilidades de identificação.
A primeira obra, mostra um homem sozinho em um quarto escuro, lidando com seus limites corporais e questões psíquicas. Um solo que propõe uma série de soluções interessantes em deslocamentos pelo espaço e formas de lidar com o próprio corpo. Como cada um faz para lidar consigo mesmo? Em um segundo momento, temos um casal que fala uma língua estranha e gesticula, ora interpretando, ora lidando com questões da relação. De um com o outro. De ambos com o espaço, com seu próprio corpo. O estranhamento inicial; desta “nova cena” gradativamente dá espaço a um afeto muito grande por este casal de pessoas reais que enfrenta mudanças e o envelhecimento. Este homem é o mesmo do início? A sala é parte da mesma casa daquele quarto inicial? Não temos certeza e, assim mesmo, nos deixamos levar por uma trajetória muito similar a que vivemos em nosso cotidiano. No trabalho seguinte voltamos a nos defrontar com um homem só. Lidando com uma história corporal ampla e diversa, em paz com suas marcas. É possível detectar traços de um formalismo do ballet, ou de coreógrafos como Béjart, Forsythe, entre outros. E torna-se inevitável a busca por relações com aquele primeiro homem só. A habilidade corporal deste bailarino versátil,  agora apresentada em um conjunto de gestos formais do ballet, se funde ao limite corporal explorado inicialmente, um limite que beira a deficiência se confunde a uma habilidade que pode causar uma espécie de estranheza muito parecida àquela de um homem lidando com seu corpo e suas diversas possibilidades.  De forma extremamente contemporânea, Ido está em paz com os traços permanentes de séculos de história da dança em sua própria estória. É uma satisfação imensa ver um bailarino que domina diferentes tensões, linguagens ou dinâmicas. Um bailarino presente em cada instante de seu trabalho. Seja num momento formalmente coreografado ou em outros, de pesquisa e procura por uma dramaturgia que nos permite questionar quem é este ser que se move frente a nós. E que se move de forma cuidadosa e minuciosa. Cada gesto, detalhe, é meticulosamente planejado. Assim como o trabalho de luz, cenografia e figurino. Seus gestos vão se transformando e nossa impressão sobre o trabalho, também. Finalmente, vemos este criador em outro solo onde uma trajetória é completada e percebemos que estamos diante de um artista que, apesar de preso em suas questões, transita livremente dentre seus conflitos. Um artista que fala diretamente ao ser humano. Esteja ele sozinho ou acompanhado, em Israel, Brasil, ou em um quarto escuro.
*Silvia Woolf é bailarina e professora da Licenciatura em Dança da Ufpel

Um comentário:

Raisa Torterola disse...

Silvia, parabéns pelo texto. Concordo muitíssimo com tuas questões. E, claro, parabéns ao Ido!