quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Mi querida por Israel de Castro


Tarde de chuva com distinta senhora
O teatro brasileiro ainda hesita entre contar bem uma história tendo a técnica como meio ou como mensagem. O Uruguai nunca esqueceu de aplicá-la a favor do ator e não da forma. O teatro que nos chega aqui, quase sempre via Em Cena, é maduro, seguro e, principalmente, simples, cativante. E assim é Mi querida, monólogo escrito pela argentina octagenária Griselda Gambaro, baseado em um conto de Tchekhov. No palco, Isabel Schipani, uma atriz que, desde o início, mesmo que o público não a conheça, dá a entender que é uma das damas do teatro do seu país. E eis que em um google, está lá: melhor atriz do ano passado, com o maior prêmio uruguaio e justamente por esse papel. 
 
No setembro diluviano de Porto Alegre, o espetáculo que começa abaixo de chuva (na história), sem querer, já pega o público pela coincidência factual. E a chuva é o condutor para que a audiência fique totalmente à vontade (e protegida) na sala de visitas daquela senhora (sim, é uma visita. E ela serve-nos chá, como convém a uma russa distinta). O tempo? É antigo, visto que a luz é fortemente sépia, como uma foto velha, e o figurino, um vestido comedido.
Como o conto é conciso nas palavras, Isabel, ou Olga, é exata nos gestos e no sentimento. Ver a emoção brotar de uma atriz de maneira espontânea, e não condicionada pelo texto, em um espaço mínimo como a sala Carlos Carvalho, é sempre um momento definitivo. Olga conta sua história e, de repente, a história já não interessa, o importante é ficar ali, ouvindo-a, como uma tia que nos acolhe em uma visita, numa tarde chuvosa, em viagem à fronteira. A mulher que teve três homens, foi infeliz, ficou sozinha, e se apegou, se apegou...porque era o que restava a muitas mulheres no início do século passado, apaixonar-se, espantar-se com a viuvez e a solidão. O importante era ser querida. O teatro uruguaio é sempre querido.

*Israel de Castro é jornalista, editor-chefe do Band Cidade

Um comentário:

Vó Léia disse...

pelo que escreveste sinto que é muita emoção.
e é uma atriz no sentido pleno .
eu gosto muito de histórias antigas, fazem bem para a alma e para o coração.
sentimos saudades e lembramos a vida de outros como se fosse a nossa.
parabéns por ter passado tão bem a peça.