sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Bob Bahlis #7: A placa a Paulo José



Foto: Creative / PMPA

Cena 5: Teatro é feito com as mãos

Foi um dos momentos mais emocionantes e engraçados do Porto Alegre em Cena: a entrega de uma placa para Paulo José por Luciano Alabarse. Vamos aos fatos reais, ocorridos na noite chuvosa de um domingo.

Depois do espetáculo Um navio no espaço ou Ana Cristina César, o Paulo José chamou o Luciano Alabarse ao palco do Teatro CIEEE. Caio Fernando Abreu, Ana Cristina César e tantos outros foram mencionados por Luciano, que fez o público chorar. O Luciano também chorou. Eu também! Ele tinha uma placa nas mãos, daquelas com frases para homenagear.

Produzo o que rolou: uma daquelas cenas que a gente nunca esquece.

Luciano: Hoje, às seis da tarde, perguntei: E a placa, a placa para homenagear o Paulo José na estreia do espetáculo? Alguém respondeu que estava na gaveta. Aí eu abri a placa e fiquei pasmo.

Silêncio.

Luciano: Tinha um erro de português! A primeira coisa que vi foi que faltava um “S” numa palavra.

Plateia ri.

Luciano: Na placa, o começo era assim: Paulo, você é um dos orgulho do teatro brasileiro.

Plateia ri muito.

Luciano: Saí correndo a procura de uma loja pra fazer uma nova placa, para homenagear o Paulo José. Nenhuma loja poderia fazer naquele momento. Fiquei desesperado.

Plateia ri muito.

Luciano: Aí, resolvi pegar um estilete e fiz um "S".

Plateia ri demais.

Luciano: Ficou horrível.

Plateia ri mais ainda.

Luciano:
Saí correndo pra comprar uma caneta dourada. Dar uma maquiada, pra combinar com as letras douradas. Ficou terrível.

Plateia ri muito. Paulo José e Ana Cristina se dobram de tanto rir.

Luciano:
Pensei em suspender a entrega da placa pra hoje.

Público inteiro berra: NÃO!!!!

Luciano:
Pois é. Achei melhor entregar assim mesmo. No teatro, a gente vai acertando, errando e, com as próprias mãos, tentamos arrumar os erros. O teatro é artesanato, feito com as mãos. Então, Paulo José, te entrego aqui com as minhas mãos, a placa em tua homenagem.

PÚBLICO APLAUDE DE PÉ.

Paulo José:
Bom eu sempre me orgulho dessa amada terra, de ser gaucho.

*

Foto: Alexandre Bazzo

Cena 6: Mirna Spritzer


A atriz gaúcha Mirna Spritzer é meu sonho de consumo como diretor de teatro. “Todas as coisas que faço giram em torno do fato de ser atriz”, certa vez, disse Mirna. E concordo com ela: “Muitas vezes estamos mais próximos de Montevidéu e de Buenos Aires do que do Rio ou São Paulo.”

Bob: Mirna, qual a melhor peça que já assistiu na vida, que mais lhe marcou?
Mirna Spritzer: Noite de reis, de Shakespeare, pelo Theatre du Soleil, em 1984, Cartucherie, Paris, nevando, Ariane Mnouchkine, ajeitando as pessoas na plateia para que coubessem todos, distribuição de vinho para aquecer, atores se maquiando e se aquecendo... Era tudo que eu sonhava. O espetáculo se desdobrava e eu me sentia testemunha do maior acontecimento da terra. Os atores faziam Shakespeare inspirados pelo teatro Kabuki e eram universais.

Bob:
Constuma ir ao teatro com frequencia? De quanto em quanto tempo?
Mirna Spritzer: Varia. Tem épocas em que me reapaixono e vou bastante. Em outras, me recolho.

Bob: Quais as peças a que assistiu no Em Cena deste ano até agora?
Mirna Spritzer: Happy days, As troianas, Antígonas, Um navio no espaço, A máquina de abraçar. E Alkohol, que não é teatro, mas bem poderia ser.

Bob:
Em poucas palavras, o que achou delas.
Mirna Spritzer: Amei o espetáculo de Goran Bregovic com sua orquestra, Alkohol. Sem sombra de dúvida, a melhor coisa do festival. Me emocionei com Paulo José e seu navio no espaço. Gostei de Adriana Asti e do Bob Wilson fazendo Beckett com liberdade e ousadia. Fiquei perturbada com As troianas. Sensibilizada com Antígonas, sendo fã de Alberto Muñoz, é melhor ainda. Muito bom o texto de A máquina de abraçar. Importante dizer que os video portraits de Bob Wilson são espetaculares. Surpresa, beleza, estranhamento, perturbação, humor, emoção. E a gente vai dosando como desejar na medida em que percorre a exposição(?).

Bob: Quais são as peças que ainda pretende assistir e estão na tua agenda?
Mirna Spritzer: Por tu padre, Reglas, usos e costumbres en la sociedad, In On It, Kabul.

Bob: Um sonho...
Mirna Spritzer: O palco. Ainda.

Bob: Uma personagem...
Mirna Spritzer: Blimunda, de O memorial do convento, de Saramago.

Bob: Uma peça...
Mirna Spritzer: Mãe Coragem e seus filhos, de Brecht.

Gente boa, desculpe qualquer erro, sabe como é a dislexia, né? Um navio no espaço ou Ana Cristina César continua ancorado na minha memória.

A peça já passou... Quem viu sentiu.

Ainda vai render entrevistas com Fabrício Carpinejar, Cinthya Verri e Ivete Brandalise sobre o suicídio da Ana Cristina César.

Beijos, Bob Bahlis

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