Feito pra começar
Quando recebi o convite para escrever sobre um espetáculo do POA em Cena, fiquei bastante lisonjeado. Mas a surpresa foi maior, após assistir, nessa sexta-feira, ao show de Marcelo Jeneci e sua banda. Senti-me, realmente, presenteado. Neste dia eu, como a maioria dos amantes da música, ainda estavam com o sentimento de incredibilidade após o desastre sofrido pela música brasileira que presenciamos na entrega do VMB (Video Music Brasil. Isso mesmo, um título em inglês para premiar artistas(?) brasileiros) 2010, apresentado pelo canal da desastrosa MTV Brasil(?). Pensamos para que caminho segue a nossa música? O que aguardar dessa nova geração de músicos(?)?
Então, eis que surge no palco do Teatro Renascença, Marcelo Jeneci, na companhia de mais três músicos e uma “companheira” de canto. Jeneci e sua turma mostram uma timidez e um jeitinho de “turma certinha”, o que reflete com certeza no show, que, no final, deixa com muito gostinho de “quero mais”. O paulista de Guaianases mostra uma maturidade artística e poética no seu trabalho. Suas baladas que abrem o show são músicas que misturam diversos ritmos e possuem uma delicadeza de cristal. Lindo de ouvir, lindo de escutar, lindo. Lindo! Acho que sutileza é a palavra que define o trabalho do Marcelo e sua turma. Há uma sutileza em tudo: no show, nas letras, no tratar com o público, no toque dos instrumentos. Mas encaminhando-se para final do show, a “turma certinha” mostra uma agressividade com um som mais pesado, mas, sem perder a identidade do início do show. Ainda é lindo de ouvir, lindo de escutar, lindo. Lindo!
Marcelo revela-se um instrumentista nato. Ele começa no piano, vai para o violão, chega no acordeom (com certeza, um show parte). Um pouco disso resulta no que a gente vê no seu show, misturas como: reggae com bossa e rock com gaita. São definições minhas pra alguns momentos do show. Quem ficou curioso, o CD dele e sua turma chega às lojas no final de outubro. Confiram, por favor! Mas já deixo aqui a minha preferida: Felicidade.
Quem estiver curioso, pode curtir essa e outras faixas do artista no myspace.com/jeneci. A faixa que dá nome ao primeiro disco e ao show Feito pra acabar, uma música com tom de revelação apocalíptica e deve beirar seus 8 minutos de duração, e é a síntese do talento desse artista que com certeza é uma promessa para a música brasileira.
Refletindo sobre o VMB ainda, não só uma promessa, mas uma necessidade. E isso a gente percebe quando está junto com um público, encantado com um artista. Um público que parece não respirar, admirado. E a gente estava assim, respirando pelos ouvidos com Jeneci. Encantados, admirados.
Algumas curiosidades sobre o show: vale ressaltar a autoria de Jeneci da música Amado, conhecida na voz de Vanessa da Mata (“como pode ser/ gostar de alguém/ e esse alguém/ não ser seu”, lembraram?). Mas o momento mais lindo do show foi quando Jeneci revelou que, antes do show do ano passado, também no POA em Cena, lá na Reitoria da UFRGS, ele teve a ideia de um refrão para uma música, e ficou só com esse refrão. Pois, segundo ele, “não veio mais nada”. Então, ele pediu pro público cantar o refrão, pra ele poder ouvir a voz do “lugar onde surgiu o refrão” (ooowwwnnn ^.^).
Diz mais ou menos assim:
A chuva é a vontade do céu
De tocar o mar
E a gente chove assim também
Quando perde alguém
Mas quando começa a chorar
Começa a desentristecer
Assim se purifica o ar
Depois de chover
E o público cantou, emocionado. Então, eu percebi que o presenteado não era somente eu. Era a plateia inteira, o teatro, o festival, o país por ter um artista tão talentoso, digno de orgulho. Jeneci deixou a promessa dessa letra da chuva. Acho que, quando ficar pronta, o festival já tem sua música tema, composta por Jeneci no próprio festival. Por que, afinal, de contas, sempre chove no início do POA em Cena, sempre chove.
*
Voz, piano, guitarra e sanfona: Marcelo Jeneci / Voz: Laura Lavieri / Baixo e violão: Régis Damasceno / Guitarra: Estevan Sinkovitz e Gustavo Ruiz / Iluminação: Alessandra Domingues / Técnico de som: Vitor Paranhos e Fernando Narcizo / Rodie: Guizinho / Direção de produção: Veronica Pessoa / Produção: Pessoa Produtora / Produção executiva: Raquel Dammous / Duração: 1h30min / Classificação: livre
*
Pablo Damian é licenciando no curso de Teatro pelo DAD (Departamento de Arte Dramática) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Como ator, trabalhou com diretores como Xico de Assis, Tefa Polidoro e Roberto Oliveira. Como diretor, montou o espetáculo Para F.K, em que, também, elabora a dramaturgia a partir de contos do escritor gaúcho Caio Fernando Abreu. Participou da pesquisa acadêmica intitulada As técnicas corporais do gaúcho e a sua relação com a performance do ator bailarino, com supervisão da Profª Drª Inês Alcatraz Marocco no Departamento de Arte Dramática. Também participou da pesquisa Do ritual religioso ao ritual dramático: a construção da atuação teatral a partir da performance ritual com supervisor do Profº. Mrs. Francisco de Almeida Junior no mesmo departamento. Atualmente trabalha no projeto intitulado MAPA, com estreia prevista para o final do ano, com direção de Tatiana Vinhais.
Um comentário:
quano ouvi pela primeira vez na sexta eu chorei. no sábado eu filmei.
http://www.youtube.com/watch?v=ZT7Du_YkDmo
Postar um comentário