sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Paulina Nólibos: Ato de comunhão


Foto: Creative / PMPA

Ato de comunhão, de Lautano Vilo

O trabalho, que se apresenta como ‘performance’ e também como um ‘primeiro estudo’, com atuação e direção de Gilberto Gawronski, utiliza as novas linguagens da tecnologia para seduzir o olhar e afastar a plateia dos limites do palco com a multiplicação das imagens e suas possíveis sobreposições e desdobramentos de sentido.

Sua abordagem da encenação assume a forma de uma narrativa, congelada no tempo parado de uma voz, que monologa em off, enquanto na arena o personagem deslocado, assiste e, raras vezes, assume a fala da voz, mexendo os lábios conforme as palavras deveriam ser pronunciadas.

A sexualidade é o grande tema e a trama é construída em torno das atitudes extremas que a solidão, a busca do prazer e a presença do desejo de morte podem mobilizar, questionando as motivações de um sujeito que não se reconhece como mentalmente incapacitado, mas que ultrapassa os limites da sanidade.

A discussão sobre Ato de comunhão poderia ser direcionada à utilização das mídias alternativas, que podem valorizar ou enfraquecer um espetáculo teatral que ainda se respalda na presença física do ator, e também à concepção dramatúrgica, que fez uma escolha pela inexistência da ação, descrita em detalhes, mas ausente na encenação. São opções são arriscadas, sem terem sido executadas de forma leviana, oferecem à montagem aquele equilíbrio instável necessário ao interesse do espectador.

A temática inusitada surpreende por sua carga de violência simbólica, ampliando as reflexões acerca dos limites dos gestos e do sentimento de amor e de privacidade frente ao corpo do outro. Se é esta a verdadeira comunhão, Heinrich Von Kleis, em 1808, já escrevera a peça teatral Pentesileia, em que há dilaceração e devoramento do corpo do amado, no caso, Aquiles. Aqui não se trata de mito e, em 2010, o casal é composto por dois homens.

Interessante abordagem, inspirada em referências consistentes como Derek Jarman, Robert Mapplethorpe, e Francis Bacon, Ato de comunhão questiona, em sua forma e em seu conteúdo, os limites e as expressões do afeto humano com sutileza e perversidade.

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Paulina Terra Nólibos é pesquisadora de teatro, atuadora do grupo experimental Oi Nóis Aqui Traveiz, professora do curso de História (ULBRA). É graduada em Filosofia (UFRGS), mestre e doutora em História Social (UFRGS) com tese sobre mito e questões de gênero em Eurípides.

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