Foto: Guilherme Santos / PMPA
Torturas de um coração ou em boca fechada não entra mosquito
Gostei muito do convite feito por Rodrigo Monteiro para comentar o espetáculo em questão: Torturas de um coração ou em boca fechada não entra mosquito, de autoria de Ariano Suassuna. Aliás, este texto, classificado como uma farsa, foi a primeira incursão do autor na comédia e serviu, anos mais tarde, como ponto de partida para a peça A pena e a lei. Torturas foi criado e encenado pelo próprio autor, em 1951, enquanto recuperava-se de uma infecção pulmonar, em Taperoá, Paraíba, por ocasião da visita de sua noiva e de alguns familiares dela.
Pois bem: a concepção do diretor Almir Telles transforma o texto criado para teatro de bonecos, dessa vez representado por atores, fazendo as vezes de bonecos em um dos mais prazerosos espetáculos a que assisti no Em Cena. O elenco é afinadíssimo e talentosíssimo, os atores executam marcas e músicas, estas tocadas ao vivo, muitas vezes, agachados atrás do cenário, com extrema precisão. Em tempo: as marcas e as gags típicas do teatro de animação rendem momentos fantásticos e devem ter exigido do elenco e da direção muito trabalho e muito ensaio.
Se você ainda não tem programa para amanhã (antes de assistir aO avarento, no Teatro de Câmara, às 22h), ou se tem a possibilidade de assistir ao trabalho no dia 21, na descentralização, vá, sem pestanejar, pois Torturas é um espetáculo muito bom!
E, se você precisa de uma definição do que é um espetáculo bom para acreditar em mim, digo que é aquele que me faz abstrair de eventuais deslizes técnicos, que me tira do papel de diretor e que me diverte.
Torturas de um coração é assim, diverte com uma simplicidade encantadora, quase ingênua, digna do deleite do grande número de crianças que se fez presente hoje na estreia, bem como dos profissionais de teatro que ali também estavam e gargalhavam em resposta às ótimas tiradas da trupe.
A estrada desse trabalho, que já beira aos 20 anos de vida, se mostra com fôlego para outros tantos, uma vez que é representada com prazer e competência pelos cariocas do Grupo Sarça de Horeb.
Vida longa a eles!
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Texto: Ariano Suassuna / Concepção e Direção: Almir Telles / Elenco: Bernardo Cerveró, Clara de Andrade, Gustavo Guenzburger, Iuri Kruschewsky e Mihay Freire / Figurino, Maquiagem e Cenário: Almir Telles / Iluminação: Almir Telles e Gustavo Guenzburger / Produção e Realização: Grupo Sarça de Horeb / Duração: 1h / Classificação: livre
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Gilberto Fonseca é Mestre em Artes Cênicas e diretor do Grupo Farsa.
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