segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Humberto Vieira: Por tu padre


Foto: Mariano Czarnobai /PMPA

Por mi padre

13 de fevereiro de 2010: meu pai retorna ao hospital para aquela que seria sua internação mais longa e derradeira. Lúcido, tranqüilo, leve, mas plugado em uma máquina que o ajudava a respirar.

6 de julho de 2010: meu pai partiu após meses de uma espera em que tive a oportunidade de estar com ele em turnos de pequenas conversas e longos silêncios. Tempo para mirar com novos olhos uma relação que durante a vida teve temperos diferentes e sabores, às vezes, insossos, às vezes, fortes demais, difíceis de engolir e que puderam ser regurgitados, remastigados e novamente digeridos.

2 de setembro de 2010: ao ser convidado para escrever sobre esta encenação para o blog do festival, percebi que teria de encarar o tema, pois a seleção dos espetáculos a que eu assistiria neste 17º POA em Cena não incluía Por tu padre, montagem argentina do texto Adivinhe quem vem para rezar do dramaturgo brasileiro Dib Carneiro Neto, jornalista e editor do Caderno 2, do jornal O Estado de São Paulo.

18 de setembro de 2010, na cena, me identifiquei com aquele menino atônito que, aos doze anos, pensava ver mais do que os adultos que delineavam seu mundo e que, agora adulto e também pai, parte para um acerto de contas que desconstrói sua frágil personalidade. Fiquei esperando que o personagem excessivamente choroso, na interpretação de Adrián Navarro, crescesse e parasse de olhar só para si, percebendo o espelho que seu pai e o amante de sua mãe (seu pai biológico) representam e a quem Federico Luppi dá o tom certo, com mudanças no figurino tão sutis e eficientes, como as feitas em sua correta e densa interpretação.

19 de setembro de 2010: a encenação do conceituado diretor, professor, ator e cenógrafo argentino Miguel Cavia, apoiada em cenário de tintas também realistas, é elegante e correta, sem ousadias, um legítimo representante do teatro tradicional e textocêntrico que ainda domina a cena Latino-Americana. Uma montagem sem erros, com a ressalva de que a iluminação e a sonoplastia poderiam ter aproveitado melhor o belo cenário e, sem surpresas, mas que cumpre com profissionalismo e ternura o propósito básico de nos entreter e fazer pensar

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Texto: Dib Carneiro Neto / Direção: Miguel Cavia / Elenco: Federico Luppi e Adrián Navarro / Figurino: Marcelo Pont / Cenário: Marcelo Pont / Iluminação: Gabriel Cavia / Produção executiva: Giuliana Bacchi - Maria Fernanda Sciuto / Produção: Cristian Cristofani, Ariel Diwan, Carlos Bacchi / Duração: 1h10min / Classificação: 12 anos

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Humberto Vieira é encenador e dramaturgo, mestre em Artes Cênicas pela UFRGS e tem duas montagens em cartaz no 17º Porto Alegre em Cena: Elefantilt – Um exercício brechtiano e Cabarecht.

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