quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Marcos Chaves: Surdomundo Impossible Orchestra


Foto: Mariano Czarnobai / PMPA

Surdomundo Impossible Orchestra

Recebi com alegria o convite do Porto Alegre Em Cena para escrever sobre Surdomundo Impossible Orchestra, pois admiro o trabalho de Arthur de Faria. O artista gaúcho foi anfitrião deste grupo com tripla nacionalidade (Argentina/ Brasil/ Uruguai) na noite desta quarta-feira no Teatro do Bourbon Country: estreia no Brasil. Já havia tocado em Buenos Aires, e, podemos prever, Surdomundo terá longa estrada pela frente.

Sete músicos, quase todos compositores, como diz o programa, com um show que alterna ritmos envolvendo o público, convidando-nos para uma viagem a sonoridades próximas de países hermanos.

Trata-se de um show musical, mas a teatralidade está presente, não há como negar. Em apresentação, os músicos interpretam suas notas com instrumentos como extensão de seu corpo. Performático, Arthur chega a interpretar uma moça de 25 anos: “mora na minha casa tanta gente que não cabe mais ninguém”. Martín Buscaglia é outro artista que nos impressiona no palco, com domínio sobre seus equipamentos e efeitos de “loop”, cria, a nossos olhos, uma banda de um homem só em uma canção.

Caíto Marcondes é o primeiro a “quebrar a quarta parede” e a interagir com a plateia, puxando “no fundo do rio tem areia/ na boca do rio tem o mar/ quando a aranha tece mal a teia/ é sinal que é hora de voltar”, o murmúrio dos espectadores vai aumentando ao participar da música com o grupo. Esta troca pertence ao acontecimento, e é única... Marcas teatrais em um espetáculo musical.

O saxofonista Maurício Pereira adentrou a questão teatral cantando uma canção para todos que trabalham nos palcos, músicos, atores e artistas que voltam tarde para suas casas e encontram o silêncio... Quando a gente canta, alguém presta atenção na letra? A pergunta do compositor fica no ar. Poesia.

Em um espetáculo como este se aprende muito sobre os ritmos dos outros países, palavras de Arthur, que diz sortear um fusca para quem acertar a “cabeça do tempo” da chacarera trunca, então, Martín Sued, no bandoneón; e Osvaldo Fattoruso, na bateria, presenteiam os espectadores com um belo exemplo.

Surdomundo nasceu em um café, ideia de Arthur de Faria e do produtor argentino Carlos Vilhalba. Imagino não ser fácil sair do papel tal iniciativa, méritos ao grupo que vence distâncias e troca experiências entre si e com a plateia.

Destaco a canção Pan y Leche, que Maurício canta acompanhado de Arthur ao piano e Ignacio Varchausky no contrabaixo, as pausas e as brincadeiras entre os músicos mostram uma afinidade entre suas sonoridades. Uma pergunta surge: há quantos anos eles tocam juntos?

Quando um show como este acaba, o bis é inevitável. E, no caso, surpreendente. Buscaglia improvisa apresentando o grupo e o espetáculo encerra com uma memorável performance de uma Impossible Orchestra. Que prosperem e voltem muitas vezes a este local no sul do mundo!

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Músicos compositores: Martín Buscáglia, Maurício Pereira, Arthur de Faria, Tata Dios, Ignácio Varchausky, Osvaldo Fattoruso e Caito Marcondes / Técnico: Gustavo Breier dos Santos / Produção: Carlos Vilhalba / Duração: 1h15min / Classificação: livre

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Marcos Chaves é artista teatral e musical. Formado em Música pela UFPEL, especialista em Encenação Teatral pela FURB, e mestrando em Artes Cênicas pela UFRGS. Assina a trilha sonora do espetáculo O avarento, participante do 17º Porto Alegre em Cena.

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