Foto: Maurício Czarnobai / PMPA
Nomes outros
O ser humano tem a mania de classificar, de nomear as coisas. Ao sentar-se numa plateia como a desse espetáculo, essa tendência mostra-se bem forte. O subtítulo tematiza uma reflexão sobre isso: a impossibilidade de dar nomes às coisas.
Sete é o número da perfeição. E há várias formas de chegar a algo próximo dela.
7x1=7 e também 1x7=7
2+2+2+1=7 e todas as variáveis
A raiz quadrada de 49 é 7.
Isso só para dar alguns exemplos.
Os bailarinos Biño Sauitzvy e Luciana Dariano, dirigidos pelo primeiro, apresentam, em quase sessenta minutos, alternativas de chegada a quadros fechados. Ao invés de irem direto ao quadro, o que valorizaria o fim, fazem contornos, rodeios, produzem o inusitado, dando força ao processo. O espectador acompanha a trajetória dispersiva de partida, de chegada e de retorno, sabendo que o destino será uma situação estanque, definida por eles mesmos e que durará pouquíssimo tempo. A construção, assim, se dá em intervalos entre um quadro e outro, entre um ponto e outro: sentados, ao chão, em pé. Não há movimentos contínuos, mas trechos que conduzem, que levam, que apontam. E todos muito bem planejados, definidos, ricamente produzidos ao olhar de quem lhes assiste com o interesse e o cuidado que ambos merecem.
O tango é um quadro em movimento e, talvez por ser exceção, ele seja apresentado como uma chave para fruir o espetáculo. Passo a passo, se desconstrói o tango numa organização decrescente em que o fim é o passo tradicional. Então, chegado a ele, há o retorno, em que, de forma crescente, se constrói a desconstrução inicial. Os fragmentos, justapostos, levam para o passo formal e trazem de volta, talvez, indicando que dos dois lados do sinal de igual há a totalidade sete, essa perfeita e absoluta.
O figurino da dupla de bailarinos são fragmentos de sentido e, por assim dizer, em si, sentidos plenos que levam a outras relações possíveis. O vestido xadrez de Dariano leva para longe do tango, embora a cor vermelha aproxime, bem como seus movimentos e sinais sonoros de satisfação. Os brincos de Sauitzvy, um em cada orelha, têm o mesmo caráter de fortalecer relações externas ao sistema proposto pelos seus suspensórios e sua postura máscula. Ambos têm traços visivelmente europeus, o que lhes tira a intimidade aparente com o ritmo sul-americano, mas trazem o desejo conceitual, e expresso, de apresentar alternativas.
Não há um único jeito de chegar a sete, como foi dito no início, mas vários. O óbvio é a única possibilidade excluída pela dupla de brasileiros radicados na França. E, se não chamássemos a dança de dança? Nesse espetáculo, que é de dança, em muitos momentos, não há música. E, mesmo quando há, escutam-se trechos apenas.
Não se pode fugir do ato de dar nome às coisas, mas todos somos convidados a darmos nomes outros a tudo.
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Direção: Biño Sauitzvy / Elenco: Biño Sauitzvy e Luciana Dariano / Figurino: Collectif des Yeux / Iluminação: Claudia de Bem / Produção: Claudia de Bem e Collectif des Yeux / Duração: 55min / Classificação: 12 anos
*Rodrigo Monteiro: Licenciado em Letras - Português/Inglês pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos.Bacharel em Comunicação Social - Habilitação Realização Audiovisual pela mesma universidade. E mestrando em Artes Cênicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Jurado do Troféu Açorianos de Teatro 2010 e, também, do Troféu Braskem 2010, é autor do blog www.teatropoa.blogspot.com de Crítica Teatral de Porto Alegre
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