Sátira social + melodrama romântico x espetáculo de comédia física.
O espetáculo de dança/teatro, 2x3+1=7, que se apresentou no 17º Porto Alegre em Cena, e foi criado e interpretado Biño Sauitzvy e por Luciana Dariano, nos remete automaticamente ao mundo de Samuel Beckett. Assim como todas as peças de Samuel Beckett eram caracterizadas por uma aridez de cenários, esta também nos desperta a atenção pela mesma aridez, apenas uma cadeira e um foco de luz sobre um casal estranho, quase ridículo, um casal de uma peça de Beckett. E eles irão desfiar sua mazelas diante de nós por aproximadamente uma hora, quase como um friso: QUEDA/ SILÊNCIO/ MURMURIO/ QUEDA/ SILÊNCIO/ MURMURIO. . . e assim por diante. Mas tudo isto, como numa rotina , em que nada acontece, parecendo que tudo acontece. A QUEDA, por vezes, vira ESTATELAR e o MURMURIO será GRUNHIDO. É um friso também composto de tensões oscilantes, que nunca se resolvem de todo, e conservam a ação em numa espécie de ânsia aflitiva. É quando percebemos que estes personagens estão encurralados em um relacionamento, árido como o cenário, e dali não sairão, assumindo, assim, a condição de destino. Ao final, perceberemos com eles que as coisas existem e acontecem sem sentido aparente.
O grande mérito de 2x3+1=7 não é determinado pela natureza do argumento e, sim, pelo caráter da execução. Estes dois, às vezes, nos remetem a Buster Keaton das antigas comédias do cinema mudo. São impassíveis e mantém as mesmas feições, em que nós, como espectadores, projetamos nossas aspirações sentimentais, sensoriais e morais. Quase um espetáculo de comédia física. Outras vezes transparece uma fúria, uma raiva até então contida, em que um gesto mínimo a detona.
Ao final, este casal, a mercê de seus contatos tão fortuitos quanto emotivamente insignificantes, nos fazem rir da solidão a dois, com uma peça animada por sentimentos tão humanitários e não carente de certa amargura.
BRAVO!! Biño e Luciana !
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Ivan Motta é coreográfo. Seu último espetáculo chama-se O diário do desassossego, da Companhia H.
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