terça-feira, 28 de setembro de 2010
Carlota Albuquerque: Na palma dos olhos
Foto: Luciano Lanes
Um espaço para Palmas
Com uma certa “timidez literária”, confessada por telefone para o Rodrigo, (a quem carinhosamente agradeço o convite), também por um – felizmente - provocante novo momento na minha vida encontrando Minouchkine, Wilson, Lehmann, Brecht, Isaacsson, além de muito trabalho, demorei alguns dias para transcrever minhas impressões sobre Na palma dos olhos de Tocantins.
A obra, conforme sinopse publicada no POA em Cena, “é inspirada nas primeiras impressões de forasteiros recém-chegados em Palmas/TO. Apresenta temas humanos diversos como o desafio de desbravar caminhos e a liberdade de ultrapassar os limites”. Tive a sorte de assistir à peça no último dia de apresentação no Teatro de Câmara Túlio Piva, onde, após espetáculo, o grupo generosamente abriu ao público um pouco de sua história e seu processo de trabalho. Estas “pegadas”, como descreveria Cecília Salles, me permitiram tornar mais visíveis o percurso da criação do artista João Vicente em parceria, segundo seu relato, com a bailarina Carolina Galgane.
Apesar da experiência de João Vicente como bailarino, entre elas como integrante do grupo Corpo(MG) e da Quasar(GO), e de Carolina Galgane, como bailarina do Primeiro Ato(MG), a obra criada para dois bailarinos (João e Carolina) e dois atores, Brenno Jadvas e Renata Souza, que não participou da concepção inicial, registra a criação deste jovem grupo que tem apenas um ano e meio de existência reunidos na cidade de Palmas (cidade planejada para ser capital, antes da separação de Goiás, do estado de Tocantins).
Com este olhar impregnado pela narrativa de seus criadores e intérpretes, principalmente sobre as dificuldades de adaptação neste novo território tão distante da região sul, penso que “emprestar meus olhos” como espectadora desta obra possa auxiliar e fortalecer a ideia de grupo e, sobretudo, de continuidade ao trabalho. Pensar que este grupo, além das dificuldades comuns relativas à manutenção de coletivos independentes no Brasil, reside em uma capital onde a dança teve que ser agradavelmente apresentada como profissional, parece ainda mais complicado. Talvez por isso, Na palma dos olhos seja um espetáculo ainda frágil, bem humorado, mas com pouco espaço para imaginação, tornando nossa posição de espectador muito confortável (prefiro ser incomodada), tudo está corretamente descrito. Esta foi a maneira de aproximar o público de Palmas da dança contemporânea, conforme justifica o próprio grupo.
A competência de João Vicente como bailarino é inegável, super orgânico, fluido, um fazer sem esforço brinca com o espaço/tempo/movimento. Enquanto criador, tem muito carimbado, em seu corpo-memória, a obra-linguagem de Henrique Rodovalho, o que não é um problema, pois o tempo, mais trabalho, mais investimentos, conecções diversas, somados a esta linda energia de seus integrantes, poderão criar uma visage do grupo e fazer de Palmas, quem sabe, uma nova capital de dança.
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Ficha Técnica:
Direção: Carolina Galgane / Coreografia: João Vicente / Elenco: Brenno Jadvas, Carolina Galgane, Renata Souza, João Vicente / Assessoria de figurino: Norma Brügger / Cenário: Marco Túlio / Iluminação: Lúcio de Miranda / Produção de audiovisual: Caio Brettas / Trilha sonora: João Vicente / Duração: 45min / Classificação: livre
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Carlota Albuquerque é coreógrafa, diretora da Terpsí Teatro de Dança desde 1987. Atualmente é aluna especial PPGAC-DAD UFRGS.
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Um comentário:
Carlota, gostarida de generozamente agradecê-la por seu comentário a respeito do espetáculo. Adoro a troca de impressões que, de certa forma, me auxiliam gradativamente na construção de "um pensamento" em dança que, possivelmente, deixará de ser exposto tão literalmente. Estamos providenciando a construção de um sítio (site) mas, enquanto não finalizamos, caso deseje entrar em contato conosco da LAMIRA, deixo-te o endereço:
lamiraciadedanca@gmail.com
Um super abraço para você e pra os gauchos que nos deixaram saudosos.
João Vicente
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