Los caballos
Assisti ao espetáculo uruguaio Los caballos do grupo La Gaviota sob a direção de Mauricio Rosencof e confesso uma grande dificuldade para comentar sobre o trabalho. Acho muito delicado comentar sobre um espetáculo que não consegui acompanhar a história por ter entendido muito pouco do texto encenado, pois o espanhol falado é coloquial e, por isso, dito com muita rapidez.
O que é possível de ser comentado é relativo à parte visível do espetáculo, a formal e a estética e a relativa ao jogo dos atores. Em primeiro lugar, acho que o espetáculo peca pelos lugares comuns nas escolhas dos acessórios, objetos de cena, a sua disposição no espaço e mesmo o ‘cenário’/tenda que pretende representar o local onde o casal mora. Os objetos e acessórios cênicos são concretos e contrastam com o fogãozinho/latão com uma luz vermelha ‘representando’ o fogo aceso. O espectador não precisa imaginar nada, tudo está lá, representado, de uma forma contraditória, pois ao mesmo tempo em que existe uma linha ‘naturalista’, os personagens tomam chimarrão de verdade, mas vemos que não tem água na chaleira. Os cavalos são representados de forma mimética pelos gestos e pelas reações do ator como se estivessem ‘andando’ à cavalo, mas sem respeitar às convenções estabelecidas no início, como as do tamanho e da localização do animal,pois retiram os estribos de uma parte do cavalo que não corresponde ao seu dorso. Outro ator ‘pesca’ com vara de pescar e anzol no chão de madeira do palco. Predomina, então, uma confusão de linguagens, que acaba se refletindo no jogo do ator que é artificial, primário e representativo. Além disso, o figurino e os acessórios são elementares e mal acabados, o que demonstra também uma falta de cuidado com a parte visual do espetáculo. Descuido que se verifica no paradoxo que é a presença em cena de um ator de óculos de aros modernos e com um corte de cabelo moderno que contracena com outros que estão vestidos à la camponesa, pilchados.
Fico me perguntando como é que um espetáculo desse nível consegue ser selecionado para o Festival POA em Cena que é um dos mais importantes festivais de teatro da América Latina.
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Texto: Mauricio Rosencof / Direção: Ernesto Clavijo / Elenco: Lidia Etchemedi, Rossana Ramón, Carlos Scuro, Duilio Boch, Manuel Villarino, Emanuel Sobré e Júver Salcedo / Figurino: Gerardo Egea / Cenário: Alejandro Curzio / Iluminação: Juan José Ferragut / Trilha sonora: Carlos García / Produção e Realização: Teatro de La Gaviota / Duração: 1h / Classificação: livre
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Inês Alcaraz Marocco
Professora do DAD/IA/UFRGS e diretora teatral. Formada pela École International de 'Théâtre, Mime et Mouvement' Jacques Lecoq, Paris, França.Doutorado em Esthétique, Sciences et Technologie des Arts, opção Études Théâtrales et Chorégraphiques na Universidade Paris 8, Saint-Denis, França. É diretora do espetáculo O sobrado, ganhador dos Troféus Brasen 2009 de Melhor Espetáculo.
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