sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Juliana Thomaz: Na solidão dos campos de algodão


Foto:  Cristine Rochol / PMPA

Na solidão dos campos de algodão

Texto de Bernard Marie-Koltès, falecido dramaturgo francês, alcoolista, homossexual e controverso, de poética inovadora e iconoclástica. Sim. O texto é forte, mas os diálogos são longos solilóquios que necessitam de cuidados quanto a sua montagem. O cenário do espetáculo chama a atenção por suas cinco gangorras que substituem o palco tradicional. Tal cenário cria uma grande espectativa quanto a encenação. O espetáculo começa. A plástica é interessante, os atores são bons, mas a cena não se desenvolve. Nada acontece, nada surpreende o espectador. Montado no Cais do Porto, um ambiente singular, adequado ao texto. A direção de Caco Ciocler deixa a desejar. A plateia aflita desiste e muitos levantam-se e vão embora no meio e, praticamente, segundos antes do final do espetáculo. Fiquei imaginando se as palmas vieram realmente ao final ou interromperam o final. A pouca luz, as poucas ações e os excessivos discursos que não se preenchiam foram amortecendo o interesse na cena. Armando Babaioff, seguro em cena, conhecia a sua personagem: um homem perturbado e apreensivo. Gustavo Vaz entrou ansioso e verborrágico, mas mostrou carisma e até arrancou suspiros tímidos das espectadoras atentas. O que não foi suficiente para traduzir ou transmitir o que aqueles ásperos diálogos nos queriam dizer. Os microfones não funcionavam direito e não me pareciam necessários. Dificultavam ainda mais a adaptação dos atores ao novo espaço.

Teatro não é só um bom texto, bons atores, criativo cenário, figurino adequado e alguma luz. Teatro é jogo, é ação. Infelizmente não foi ao que assisti. Saí do Cais do Porto chateada e constrangida pelos atores, por Bernard e por Caco, que, como diretor, é um ator competente e admirável.



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Texto: Bernard Marie-Koltès / Direção: Caco Ciocler / Elenco: Armando Babaioff e Gustavo Vaz / Figurino: Amanda Carvalho / Cenário: Bia Junqueira /Iluminação: Rodrigo Portella / Música original e Trilha sonora: Felipe Grytz / Produção: Liliana Montserrat e Damiana Guimarães / Duração: 1h30min / Classificação: 16 anos


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Juliana Thomaz, 35 anos. Atriz há 17 anos,no Teatro atuou em Prazer (Julio Wargas) e Diário de um louco (Gogol). Dirigiu Há um incêndio sob a chuva rala (Vera Karam) entre outros.

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