Cena 7: Suicídio no Porto Alegre Em Cena
Suicídio no Porto Alegre em Cena. Tem assuntos delicados. Cuidado ao falar em suicídio. Piram com a mente dos desconectados, deprimidos, sei lá... Larguei a psicologia nos primeiros anos de curso. Suicídio é um assunto delicado na vida real e na ficcional.
Depois do espetáculo do Paulo José, conversei com algumas pessoas sobre o suicídio da Ana Cristina César, grande poeta. A peça Um navio no espaço ou Ana Cristina César mostra a angústia dos textos deixados por ela em diários e muito bem interpretados pela Ana Kutner. Os questionamentos dessa angústia são feitos pelo personagem do Paulo José. Há citações como: "Sabia que as mulheres lindas se matam muito mais que as feias?"
Chega de papo. Vamos lá:
Bob: O que achou do espetáculo?
Fabrício Carpinejar: A peça teatraliza mais a morte do que a vida da Ana Cristina César. É uma obra simbólica pelo reencontro do Paulo José, com o público gaúcho e por todas essas conexões entre Caio Fernando Abreu e Ana Cristina.
Bob: E, como poeta, te identificas com o trabalho da Ana Cristina César?
Fabrício Carpinejar: Ela conseguiu iluminar toda a geração do mimeógrafo. Mesmo com aquele enfrentamento, com seus poemas corajosos, a Ana Cristina César tinha um lirismo introspectivo. Mas, como poeta, não me identifico tanto com essa loucura. A gente morre pela nossa normalidade e não pela imaginação A imaginação nos salva. Não é doentia!
Bob: E esse suicídio dela?
Fabrício Carpinejar: Ela viveu a vida que não podia. A gente deve viver a vida que pode, que suporta. Há uma glamorização no suicídio. Ela não pode ser valorizada por aquilo que ela deixou de fazer. Parece que ela é melhor porque morreu jovem, bonita e tinha um futuro pela frente. Ela não tinha futuro! Devemos festejar o nascimento da Ana Cristina César muito mais que a morte, que o suicídio.
Bob: Mas preciso de uma explicação!?
Fabrício Carpinejar: Sempre queremos uma explicação para esse tipo de atitude. É a desistência da explicação. Ficamos com medo da nossa própria ideia de morte.
Bob: E qual a tua agenda pra este Em Cena e o defina?
Fabrício: O Poa em Cena é dedo na tomada. Quero ver Hilda Hilst - O espírito da coisa
A médica Cinthya Verry, uma das pessoas mais interessantes e atraentes da cidade, namorada do Carpinejar, que participa do quadro Crônicas faladas, no programa Camarote Tv Com, e vem escrevendo na Zero Hora lindos textos, conversou comigo.
Bob: O que achou da peça?
Cinthya: Achei um espetáculo corajoso. Adorei a adaptação do texto. Fiquei tensa o tempo todo.
Bob: E este suicídio da Ana Cristina César?
Cinthya Verri: Na vida dela, não consegui ver uma luz no fundo do túnel e isso me deixou cada vez mais tensa. Não senti nada de feliz em nenhum momento do espetáculo. Essa incompreensão acontece quando olhamos para o suicídio. Não conseguimos compreender o desejo da morte. Mas esse desejo é compreensivo.
Vejo a atriz e jornalista Ivete Brandalise, grande amiga do ator Paulo José.
Bob: O que achou da peça?
Ivete Brandalise: Um espetáculo maravilhoso. Direção fantástica do Paulo José. Eu nunca tinha visto a filha do Paulo com a Dina Sfat no palco. A Ana Kutner é uma ótima atriz. É uma grande bailarina também.
Bob: E este suicídio da Ana Cristina César?
Ivete Brandalise: É uma questão pessoal. Ela mostra sua ansiedade, angústia e dificuldade em lidar com a vida, desde o começo da adolescência. Essa insatisfação era muito grande. Apesar da família tê-la amparado, colocando profissionais para ajudá-la 24h por dia, o problema existencial da Ana Cristina César era maior do que tudo.
Bob: E o Porto Alegre em Cena.
Ivete Brandalise: Cada vez melhor!
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*Bob Balis (40 anos) é diretor de teatro e dramaturgo. Dirigiu os espetáculos Stand Up Drama, Dez(quase)Amores , Filhote de cruz credo, Tem Quintana na Casa, Homens, entre outros. Em novembro, estreia a comédia adulta Morgue (texto e direção). Em 2011, pretende montar a peça O dia mais quente do ano (texto e direção). É professor de teatro da escola Cômica Cultural.
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