quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Rodrigo Monteiro #10: Sonata de otoño

Foto: Guilherme Santos / PMPA

Teatrão

Longe de qualquer coisa que faça pensar em muitos personagens, momentos em que atrizes tocam ao piano músicas conhecidas e uma trama cinematográfica de passagens que se sucedem, Sonata de otoño oferece ao seu público duas atrizes em um par de cenas a dizer, em voz e em corpos naturalistas, as mágoas e os medos de seus personagens. A mãe, uma grande pianista, visita a filha mais velha pela primeira vez em sete anos. Lá descobre, entre outras coisas, que sua filha mais nova, doente mental, saíra da Casa de Saúde e fora morar com sua irmã. Vinda do enterro de seu último marido, Charlotte encontra-se presa à discussões sobre seu passado com Eva, a filha que lhe cobra amor para si, amor para o pai já morto, amor para a irmã, maternidade. Sendo, mãe Charlotte não é.

Não há ação externa que não seja sentar, levantar, entrar e sair. Os diálogos entre a mãe e a filha são sobre trivialidades no início crescendo para a abertura de velhas feridas no final. O epílogo não é surpreendente: é como se nada tivesse acontecido, mas sabemos que aconteceu.

Dirigido por Omar Varela, que trouxe de Ingmar Bergman a história, Sonata de otoño faz dormir quem gosta de pulos e gritos. Mas agrada a quem consegue concentrar-se no que ouve e curtir a subida, degrau após degrau, de uma boa e velha discussão de relação. Não há trabalho de corpo, não há movimentos milimetricamente marcados e as poucas entradas de Helena, a filha mais nova, são como parte do cenário, como o piano que está ali para lembrar que a música clássica e sua força escondida permeia a história dessa família. Tudo está no texto dito pela mãe e pela filha e, realmente, qualquer coisa a mais iria tirar-lhe o brilho. Varela não ousa, o que, nesse caso, é bom.

Se há algo que compromete o trabalho, é a repetição quase televisiva de Clair de la lune, de Debussy. Como um plin-plin, o tema romântico surge sempre e constantemente anunciando que, em breve, a discussão vai esquentar. A interferência prenuncia o que vem, esse já sabido por quem espera pelo bom e velho texto dialogado por boas atrizes e quase nada mais.

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De: Ingmar Bergman / Tradução: Julio Morere / Direção: Omar Varela / Assistência de direção: Diego Aguirregaray / Elenco: Estela Medina, Margarita Musto e Silvia Rivero / Figurino: Nelson Mancebo / Iluminação: Carlos Torres / Trilha sonora: Omar Varela / Produção musical: Eduardo Gilardoni / Duração: 1h30min / Classificação: 16 anos

*Rodrigo Monteiro: Licenciado em Letras - Português/Inglês pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos.Bacharel em Comunicação Social - Habilitação Realização Audiovisual pela mesma universidade. E mestrando em Artes Cênicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Jurado do Troféu Açorianos de Teatro 2010 e, também, do Troféu Braskem 2010, é autor do blog www.teatropoa.blogspot.com de Crítica Teatral de Porto Alegre

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