Faça fila!
Era uma manhã de sol, setembro de 2001.
Dia de abertura de venda de ingressos do Em Cena tem uma cor diferente. Acordo cedo porque para garantir meus preferidos só madrugando, tem jeito não. E vou para, na época, o Shopping Iguatemi. Ofegante, percorro toda a extensão do local atrás da nascente de fila. Perdi uns dois minutos nesta procura, perguntando a todos os vigilantes por esta formação de gente.
Achei.
Em minha frente umas vinte pessoas, calculei mentalmente as possibilidades de compra e se não haveria risco de perder alguma .
Raciocino: se cada uma dessas 20 criaturas comprassem 5 ingressos, haveria o perigo de ficar mal localizada nos teatros. Gosto de sentar na frente, ver cada expressão, movimento e até suor dos atores.
Render-me jamais!
Em instantes, a fila foi tomando proporções gigantescas, gente por todo o lado, de todos jeitos e invenções.
Em evento desses, é bom estar disponível para conversas casuais e trocas de sugestões:
“Você já assistiu ao Pinter?”
“Eu indico o Zé Celso. É demais!”
“Você vai ao Ponto de Encontro nesse ano?”
Frases soltas, como estas, são tradição da tão famosa fila do Em Cena.
O tempo passa e o pessoal irritado com os invasores que chegam e atrapalham a diversão alheia, forjando um lugar na frente. Dá-se início a uma série de empurrões, xingamentos, e a confusão se instala.
Até que, em meio a nervos alterados, uma voz lá do início, grita efusivamente:
“Gente! Por que tantas brigas? Acabaram de atacar as Torres Gêmeas! O mundo vai terminar!”
Silêncio geral! Nossas desavenças foram todas parar nos bastidores.
Quando a vida real se apresenta, é num só ato!
Patrine Vellux
* Patrine Vellux ganhou dois ingressos para ver o espetáculo "Rubros: vestido-bandeira-batom".
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