domingo, 12 de setembro de 2010

Adriane Mottola: Dr. Jekyll and Mr. Hyde

Foto: Creative

Trash mesmo

Para apresentar a sua produção Dr. Jekyll and Mr. Hyde, a dupla de brasileiros radicados na Espanha, Roberto Cordovani e Eisenhower Moreno, abusa dos números: (...) eles interpretam doze personagens e trocam de roupa quarenta e quatro vezes numa encenação com trezentas e vinte mudanças de luz, quarenta movimentos de cenário, trinta e seis inserções musicais, quatorze cenas exibidas em vídeo e dezoito perucas usadas ao longo da história. Tão disparatado quanto o release é o próprio espetáculo. No afã de causar a impressão de grande produção, os atores, diretores e dramaturgos RC e EM estruturam uma encenação previsível e entediante num desfile de personagens amorfos que não agem, só conversam e conversam e conversam, em cenas continuamente entrecortadas por projeções banais acompanhadas de uma trilha sonora estridente, interferências que servem apenas para que os atores... Troquem de figurino!!!

O espetáculo cheira a mofo, é antiquado, mal feito, totalmente “sem noção”. Num cenário indefinido, personagens opacos sucedem-se em interpretações hesitantes, plenas de reticências, como se os atores tentassem lembrar o texto, que é dito como se tivesse sido dublado para o português, naquele estilo filme B da Sessão da Tarde. Se a luz acende em determinado local, certamente os atores estarão em outro. Quase não contracenam, não se vêem, vagueiam perdidos no espaço, sem direção nem sentido. Titubeiam.

Tão constrangedora quanto patética, a encenação chega ao clímax do “horror” quando sugere a fusão de Dr. Jekyll / Mr. Hyde, através de “efeitos especiais” que lembram os de Monga, a mulher-gorila que apavorava as crianças nos pequenos parques de diversão de décadas atrás.

Desconcertante, inacreditável, indefinível, Dr. Jekyll and Mr. Hide é muuuuuito trash. Mas não é um lixo cult não, é lixo mesmo. Teatro barato, de pouca imaginação, que não faz jus ao romance de Robert Louis Stevenson em que se inspira.

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Ficha Técnica:

De: Robert Louis Stevenson

Tradução, Adaptação, Direção e Elenco: Eisenhower Moreno e Roberto Cordovani

Figurinos: Roberto Cordovani
Desenho de Luz e Som: Eisenhower Moreno
Efeitos Especiais: Ricardo Spencer
Técnica: Leandro Costa e Bruno Portela
Realização: Encena Produccións Artisticas S.L
Duração: 1h20min
Classificação etária: 12 anos

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Adriane Mottola é diretora, atriz, produtora e mestra em artes cênicas pelo DAD/UFRGS, além de diretora artística da Cia. Stravaganza.

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