Foto: Creative
Arte e Fetiche
fotografar pessoas jovens, maduras e bem velhas, Robert Wilson está aí, nem jovem, nem velho, muito antes o contrário. A isso chamamos artista, certo? Um xamã, talvez. Um feiticeiro.
Ali estão, em galeria, várias personalidades das artes pop (cinema, teatro, variedades, etc... Até uma pantera negra!). Fiquei curtindo as imagens, começando por Isabella Rosselline sobre um trapézio arfando saborosamente peito e barriguinha...Depois, Brad Pitt na chuva... Logo, uma colagem pop-art, tão colada que não identifiquei a moça (Dita von Teese?)... Dois performers orientais: um com borboletas que vêm e vão sobre seu corpo imóvel; outro com uma frase que vai se escrevendo sobre a maquilage de uma face butô que, de quando em quando, abre os olhos...
Bem, não vou citar todos os que vi ... Mas vou citar o que me sucedeu no 2º piso da exposição ao ver a pantera. Me toquei de uma coisa que várias pessoas, pelo que me disseram, não haviam percebido... O olhar da pantera me fitava, fosse qual fosse o meu ângulo de visão, como o "monstro negro e luzidio de minhas fantasias recalcadas"... Então, logo adiante, parei em frente a Johnny Deep e acontecia o mesmo com ele: me
olhava. Que bacana, Bob! Então, surgiu uma visão de dento de minha memória. Vi-me garoto na casa de uma vizinha, a contemplar um pouco assustado um Jesus, num quadro de gesso pintado, que me acompanhava com os olhos... Ah, sim! Os Ícones, estamos diante deles aqui também, com Wilson, não? Não são deuses(as) da cultura popular, estes fotografados?
olhava. Que bacana, Bob! Então, surgiu uma visão de dento de minha memória. Vi-me garoto na casa de uma vizinha, a contemplar um pouco assustado um Jesus, num quadro de gesso pintado, que me acompanhava com os olhos... Ah, sim! Os Ícones, estamos diante deles aqui também, com Wilson, não? Não são deuses(as) da cultura popular, estes fotografados?
Então, fui mais além, um bocadinho, e senti que o Bob tem uma perspectiva voyeurista&fetichista. Em cada uma das cinemáticas figuras, ele valoriza um detalhe. Sim, uma parte pelo todo. Acho que ele tira prazer de coisas variadas, desde a decomposição do corpo na velhice de alguns modelos (principalmente rosto e mãos), até, em contraposição, tirar gozo da beleza idealizada da garota no trapézio. O Brad Pitt debaixo de chuva, de cuecas, com sua barriga delineada em gomos, levanta uma pistola e esguicha água em direção do observador... Hum, tão direto que nem passa pela metáfora... Pelo que vi (e a dedução é livre), em teatro e em ensaio fotográfico, o Bob quer segurar o tempo imóvel ou, ao menos, fazê-lo andar bem devagar, para saborear a vida que passa.Tá certo ele. Quem, nessa vidinha besta, não quer gozar um tanto aqui, outro tanto ali, nem que seja espiando as obras de nosso adorado Robert Wilson, heim?!
A palavra arte vem de artifício - coisa feita artificialmente. A palavra fetiche - que define a mostra - vem
de feitiço, coisa feita, minha gente... Que coisa, heim?
de feitiço, coisa feita, minha gente... Que coisa, heim?
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Camilo de Lélis, diretor de teatro, entre seus trabalhos destacam-se: O ferreiro e a morte, Macário, o afortunado, O estranho Senhor Paulo, A bota e sua meia e Mehrda, presidentas que foram agraciados com o Troféu Açorianos da Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre em várias categorias. Seus trabalhos foram vistos em circulação por quase todo Brasil. No exterior, destacam-se as apresentações de Jacobina e de Mehrda, presidentas em Montevidéu (em 1996 e em 2001, respectivamente) e de O estranho Senhor Paulo em Buenos Aires (1997). A bota e sua meia apresentou-se na Alemanha, em 1998, e em Portugal, em 2003, dentro do Projeto Cena Lusófona. Em 2006, as encenações de Camilo de Lélis foram objeto da monografia Carnaval, encenação e teatro gaúcho, premiada no Concurso Nacional de Monografias Gerd Bornheim. A obra foi publicada em 2007, registrando em livro a contribuição desse encenador para o teatro.
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