Rubros: vestido-bandeira-batom: uma peça para não esquecer
Para não passar em branco esta ótima peça, vou fazer uma pequena elegia a Rubros: vestido-bandeira-batom que se apresentou no Teatro de Câmara Túlio Piva. Duas atrizes num trabalho milimétrico de emoções, emoções que movem emoções no palco e na plateia. O mote principal é a afetividade. A amizade entre duas pessoas é um tema muito a propósito em nossos dias, pois o cinismo contemporâneo parece ter desacreditado este tipo de relação. No entanto, desde a filosofia grega até os filósofos atuais, que recomendam a razão sensível em lugar da razão utilitária, não houve nada tão importante para o ser humano quanto a relação de amizade.
Nesta peça, vinda de Belo Horizonte, vemos duas mulheres em cena, uma extremamente depressiva por haver perdido um filho assassinado, e achar-se culpada deste fato; e outra, sua amiga, que vem visitá-la para dissuadi-la de uma possível tentativa de suicídio. Os diálogos ágeis transitam entre memórias da época em que ambas estudavam e militavam juntas, até o caso mais recente em que disputaram o mesmo amor. E o público ri, se emociona e fica aflito com a proximidade do desfecho que vem para nos surpreender positivamente.
Atuam na peça Daniela Cabral e Ana Regis em ótimas composições, dando credibilidade às personagens apresentadas pelo texto da Adélia Nicolete. O espetáculo recebeu o prêmio USIMINAS - SINPARC 2008 de melhor atriz coadjuvante e de melhor texto. Tem realce, também, à iluminação que define o espaço físico (portas e janelas) e a sequência de momentos no tempo real ou psicológico das personagens; e o cenário que se divide entre objetos realistas de um apartamento e elementos metafóricos nas divisórias (em fios de lã vermelha esticados no espaço cênico, e paredes construídas com caixas de guardados da protagonista).
Oh, Minas Gerais, quem te conhece não esquece jamais! Tem sido assim com os espetáculos mineiros que nos visitam nos Poa em Cena.
Texto: Adélia Nicolete / Direção: Rita Clemente / Assistente de direção: Eloysa Martins / Direção de arte: Chico Magalhães / Elenco: Ana Regis e Daniela Cabral / Figurino: Silma Dornas / Iluminação: Alexandre Galvão e Wladmir Medeiros / Trilha sonora: Barral Lima / Duração: 1h / Classificação: 14 anos
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Camilo de Lélis, diretor de teatro, entre seus trabalhos destacam-se: O ferreiro e a morte, Macário, o afortunado, O estranho Senhor Paulo, A bota e sua meia e Mehrda, presidentas que foram agraciados com o Troféu Açorianos da Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre em várias categorias. Seus trabalhos foram vistos em circulação por quase todo Brasil. No exterior, destacam-se as apresentações de Jacobina e de Mehrda, presidentas em Montevidéu (em 1996 e em 2001, respectivamente) e de O estranho Senhor Paulo em Buenos Aires (1997). A bota e sua meia apresentou-se na Alemanha, em 1998, e em Portugal, em 2003, dentro do Projeto Cena Lusófona. Em 2006, as encenações de Camilo de Lélis foram objeto da monografia Carnaval, encenação e teatro gaúcho, premiada no Concurso Nacional de Monografias Gerd Bornheim. A obra foi publicada em 2007, registrando em livro a contribuição desse encenador para o teatro.
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